A pandemia do coronavírus, que já levou vários países (a começar pela China) a tomar medidas drásticas, como fechar fábricas e reduzir a produção nacional; o desentendimento entre Rússia e Arábia Saudita sobre a proposta de reduzir a produção de petróleo, que levou ao desmoronamento do preço do barril no início de março; a gigantesca dívida pública dos Estados Unidos, igual a 100% de seu Produto Interno Bruto (PIB), que prenuncia desvalorização do dólar: tudo isso bagunçou completamente o mundo. As previsões de crescimento da economia foram reduzidas, os preços das ações nas bolsas do mundo inteiro despencaram e o pânico se estabeleceu.
O número de pessoas infectadas pelo coronavírus aumentou, o contágio se espalhou pelo mundo, em alguns países adquiriu contornos de catástrofe sanitária – como é o caso da Itália –, a desinformação e o pânico recrudesceram e, como seria óbvio, a economia mundial foi afetada. O efeito em termos de queda do PIB do mundo e das nações atingidas já é dado como certo – no Brasil, o governo acaba de revisar para zero a previsão para 2020 –, as moedas nacionais (incluindo o real) se desvalorizaram, as bolsas de valores caíram ao ponto de terem de interromper as operações, as incertezas aumentaram, atividades estão parando e há o risco de uma crise maior em função da recomendação para que as pessoas evitem aglomerações e exposição em locais coletivos, de forma a conter a curva de contágio.
Como a própria natureza do coronavírus torna difícil saber quando o surto atingirá o pico e quando terminará, também não é possível saber até quando irá o pânico
Diante desse conjunto de fatos, há quem pergunte se as consequências são proporcionais às causas reais, ou se o momento da adoção de medidas mais drásticas é o ideal – restrições tomadas muito cedo agravam desnecessariamente a economia, mas demorar demais coloca toda a população em risco. Ainda que a análise do senso das proporções possa permitir a compreensão técnica e profissional dos fatos ocorridos, os efeitos sobre a vida econômica e social resultam das ações e ocorrências reais derivadas da psicologia das massas. Aqui entra o papel das autoridades. A principal razão da existência de um aparato estatal (o governo) é dar solução coletiva para problemas coletivos que escapam à capacidade de solução dos indivíduos e comunidades, a exemplo de guerras, catástrofes naturais e pandemias. Um surto de qualquer doença somente pode ser extirpado se toda a população agir na mesma direção, adotar as mesmas atitudes e seguir as mesmas orientações.
O pânico nos mercados, a queda da produção nacional e a redução dos preços de ativos financeiros podem ser mais ou menos proporcionais que o tamanho das causas. Diante dos fatos, o problema se agrava ou se reduz segundo a competência das autoridades sanitárias na administração da crise e no provimento dos meios para curar os afetados pela doença e dos meios capazes de evitar o prosseguimento do contágio. Uma das dificuldades, que deve ser resolvida pelo governo, é a identificação do real tamanho do problema, a divulgação de informações verdadeiras e precisas, a adoção de medidas públicas eficientes e a liderança sobre o comportamento da população.
Como a própria natureza do coronavírus – a facilidade de contágio, o tempo que infectados levam para manifestar os sintomas etc. – torna difícil saber quando o surto atingirá o pico e quando terminará, também não é possível saber até quando irá o pânico. Qualquer previsão de recuperação se torna mera especulação. De qualquer forma, as perdas em termos de produto nacional, redução das atividades e queda de receitas nos negócios levam ao crescimento do desemprego e achatamento dos salários médios. Sofrerão mais aqueles países que forem pegos com indicadores econômicos ruins, seja porque estão saindo de uma crise recessiva ou porque são estruturalmente pobres. Esse é o caso do Brasil. O crescimento do país em 2017, 2018 e 2019 foi muito pequeno, sobretudo em razão da queda de 3,5% no PIB em cada um dos dois anos anteriores, quando a recessão atingiu seu momento mais cruel.
A crise do coronavírus pegou o Brasil tentando se levantar e fazer o PIB crescer próximo dos 3%, mesmo porque a população continua aumentando na faixa de 0,8% sobre 211 milhões de habitantes. Se as taxas de crescimento dos próximos anos não forem superiores a 3% ao ano, o Brasil terá dificuldade em dobrar a renda por habitante em duas ou três décadas e, sem isso, a pobreza dificilmente será superada. Diante dessa realidade, cujas causas vieram do exterior, somente os próximos meses dirão se as autoridades e a população conseguiram enfrentar adequadamente o problema e dar-lhe a melhor solução. Nesse sentido, é preciso que todos deem sua colaboração, tão necessária para resolver problemas coletivos.
Uma coisa é fundamental nesse tipo de crise e pânico: as autoridades têm de conseguir a confiança da população, e isso se faz com informações corretas, convencimento sobre o real tamanho da pandemia, clareza nas orientações e eficiência na execução das ações capazes de minorar os efeitos do mal. Disso dependerá o tempo de duração da crise sanitária atual. Quanto aos mercados, eles apenas respondem aos fatos e ao comportamento social. O mercado não é bom nem ruim, moral nem imoral, é apenas um termômetro impessoal dos acontecimentos e fatos da vida real. O pior inimigo neste momento é a confusão de informações e a disseminação de análises erradas.
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