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Um dos desdobramentos da última campanha eleitoral foi o distanciamento manifestado contra a imprensa por parte de membros e partidários de governos reeleitos. Para se contrapor a esse clima o presidente Lula, em sua saudação inaugural, lançou um aceno pelo estabelecimento do diálogo com a sociedade envolvendo as forças que estiveram em confronto e, sobretudo, "relações mais civilizadas e transparentes com a imprensa".

Todavia o distanciamento continuou, alimentado pelo presidente do PT e deputados desse partido. O dirigente da legenda situacionista chegou a recomendar uma auto-reflexão da imprensa sobre sua atuação, e parlamentares dessa agremiação sugeriram a retomada de propostas de "controle social" sobre os meios de comunicação – bandeira típica de regimes ditatoriais esquerdistas.

Em paralelo, militantes petistas agrediram jornalistas que foram cobrir o retorno do presidente reeleito a Brasília e, em São Paulo, profissionais da mais importante revista semanal denunciaram ter sofrido intimidação em dependência da Polícia Federal – onde haviam sido convidados a prestar declarações sobre o episódio da tentativa de compra de um dossiê contra políticos tucanos por parte de dirigentes do PT. Em nosso estado, é de conhecimento geral o comportamento hostil de autoridades executivas contra órgãos e profissionais de imprensa.

Essa hostilidade tem várias explicações, sendo a primeira o desconhecimento do papel histórico desempenhado pela imprensa na evolução do Brasil, desde antes da independência com Hipólito da Costa; depois, nas lutas para a ampliação da participação popular no governo, abolição da escravatura, movimento republicano; ainda, na depuração do sistema eleitoral da Primeira República, e na restauração da democracia nas fases arbitrárias do Estado Novo e de 1964. O próprio Lula reconheceu essa contribuição; a cobertura da imprensa a lideranças surgidas pós-64 respaldou-lhe um prestígio que o levou a ascender à Presidência em 2003.

Ainda, essa distorção na compreensão da função desempenhada pela imprensa numa sociedade democrática é explicável sob a lição clássica de Max Weber: a classe de sindicalistas e intelectuais de esquerda que formou originariamente o partido no poder é animada por uma ética de convicção portadora de salvacionismo, diferente da ética de responsabilidade própria do homem político – refletindo, afinal, um déficit de tolerância democrática.

Ademais, para certos grupos como no Paraná, essa insuficiência de cultura política é explicável pelo estágio de transição da sociedade latino-americana para a modernidade – segundo pesquisadores como Juan Linz, José Álvaro Moysés e Maria Alice Rezende de Carvalho, entre outros. Mas cumpre superá-la, pela incorporação dos valores essenciais da democracia porque, ensinava Hannah Arendt, "a política baseia-se na pluralidade dos homens" e se expressa na composição dos diferentes grupos sociais para a formação do consenso básico necessário à vida em sociedade.

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