A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de sua área econômica, vem publicando estudos cuidadosamente preparados a respeito da situação econômica mundial. Como a economia é ciência que, em face de eventos futuros difíceis de prever, comporta incertezas e imprecisões, nos estudos sobre os anos à frente é possível carregar nas tintas do pessimismo, como também é possível minimizar os perigos e as ameaças. Feitas as ressalvas, os dados utilizados nos estudos da ONU garantem elevado grau de credibilidade aos relatórios por ela publicados.
Recente relatório sobre a perspectiva da economia mundial para os próximos anos está carregado de pessimismo quanto ao crescimento econômico global. Conforme divulgado pela entidade há poucos dias, no relatório Situação Econômica Mundial e Perspectivas 2013, a economia global deverá crescer em torno de 2,4% em 2013 e 3,2% em 2014. Isso significa diminuição em relação às previsões feitas pela própria ONU seis meses atrás. O relatório conclui que, se nada de diferente for feito, o crescimento baixo da economia global pode perdurar mais do que se previa até o ano passado.
Entre as causas, estão três eixos de problemas: a crise dos EUA, a crise na zona do euro e a redução do dinamismo das economias emergentes, especialmente a China. Em comunicado sobre o relatório feito à imprensa, a ONU escreve que "este ritmo de crescimento está longe do que é necessário para ultrapassar a crise do emprego que muitos países enfrentam". O desemprego é o principal mal social derivado do baixo crescimento e, ainda conforme o comunicado, "com as políticas e tendências de crescimento atuais, podem ser necessários pelo menos mais cinco anos para que a Europa e os Estados Unidos consigam recuperar os empregos perdidos por causa da crise de 2008-2009".
Ao abordar as fraquezas das grandes economias desenvolvidas, o relatório faz referência ao fato de que os países desenvolvidos, sobretudo os europeus, tornaram-se presas de um ciclo vicioso, que inclui elevado nível de desemprego, enfraquecimento do sistema financeiro, custos advindos da austeridade fiscal e baixo crescimento. No caso da Europa, vários países estão em recessão e o desemprego na zona do euro já atingiu 12% (vale lembrar o caso dramático da Espanha, que tem um quarto de sua população ativa sem trabalho e, no caso dos jovens, o desemprego passando dos 40%).
Quanto à perda de dinamismo das economias emergentes, entre elas o Brasil, parte vem das dificuldades econômicas dos Estados Unidos, da Europa e do Japão. Quando esses países entram em crise, eles reduzem a demanda interna e passam a comprar menos do resto do mundo. Com isso, as exportações dos emergentes diminuem, os capitais financeiros reduzem o fluxo de entrada e a situação do balanço de pagamentos piora. Esse panorama descreve claramente o que está acontecendo com o Brasil, cujo efeito maior é a desvalorização do real perante o dólar.
Os estudos da ONU dão destaque também a um possível "precipício fiscal" nos Estados Unidos e uma possível queda brusca da economia na China, que poderiam gerar uma nova recessão global. O pessimismo da ONU sobre o crescimento econômico global dos próximos anos tem ligação direta com as dificuldades encontradas tanto pelos Estados Unidos quanto pelos países da zona do euro em sair da crise por meio dos instrumentos convencionais de política econômica. Como os governos desses países estão com dívida exageradamente alta, a margem de manobra de solução da crise por meio de ações estatais está se reduzindo cada dia mais.
Quando uma economia se encontra em um estágio que combina alto endividamento público com elevado desemprego, as medidas de ajuste orçamentário tornam-se socialmente custosas, pois a austeridade fiscal necessária acaba provocando alguma recessão e, ainda que por tempo curto, elevação do desemprego. Em países de desemprego muito alto como é o caso já citado da Espanha , os governantes têm enorme dificuldade em sustentar as políticas de austeridade, sobretudo em razão dos conflitos sociais e das manifestações de rua que normalmente ocorrem nessas situações.
O pessimismo da ONU deve ser tomado como fonte de reflexão e oportunidade para o mundo discutir o que pode ser feito de diferente a fim de debelar a crise atual, senão pelo menos mitigá-la. A própria ONU propõe, em seu relatório, que as saídas sejam buscadas por meio de um concerto mundial de lideranças e países, pois a crise afeta a todos indistintamente.
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