Como se esperava, a eleição presidencial vai para o segundo turno, embora por pouco o deputado Jair Bolsonaro (PSL) não tenha conseguido atingir a maioria absoluta dos votos válidos: seus 46% superaram consideravelmente as porcentagens das últimas pesquisas divulgadas antes da eleição. Fernando Haddad, o preposto do ex-presidente e atual presidiário Lula, conseguiu 29% e será o adversário de Bolsonaro. Que o candidato petista fosse o segundo colocado era esperado. Mas, em que pesem vitórias como as do Ceará e da Bahia, onde Camilo Santana e Rui Costa, respectivamente, se reelegeram já no primeiro turno, o petismo amargou derrotas em colégios eleitorais bastante relevantes.
O caso mais emblemático talvez seja o de Minas Gerais. Lá, o atual governador, Fernando Pimentel, não foi nem mesmo ao segundo turno, superado por Romeu Zema, do estreante Partido Novo, e pelo tucano Antonio Anastasia. E a ex-presidente Dilma Rousseff parecia presença certa no Senado, aproveitando o presente que Ricardo Lewandowski e Renan Calheiros lhe deram dois anos atrás, quando rasgaram a Constituição e permitiram que ela sofresse o impeachment sem perder os direitos políticos. Pois Dilma terminou a disputa apenas em quarto lugar.
A população vai percebendo no que antigo slogan em que “a esperança vencia o medo” acabou se transformando
No Rio Grande do Sul, estado que também costuma dar votações expressivas ao PT, o ex-ministro Miguel Rossetto ficou de fora do segundo turno. Em São Paulo, o ex-senador Eduardo Suplicy era amplo favorito para voltar ao Senado de acordo com as pesquisas, mas terminou em terceiro, atrás de Major Olímpio, do partido de Bolsonaro, e da tucana Mara Gabrilli. Outro senador que perderá a cadeira na mudança de legislatura é Lindbergh Farias, quarto colocado na disputa no Rio de Janeiro. E políticos de outros partidos, mas que são defensores entusiasmados do petismo e de Lula, também foram surpreendidos pelas urnas. Foi o caso de Roberto Requião, do MDB, que perdeu uma reeleição que parecia certa para o Senado.
Com os resultados deste domingo, a bancada petista no Senado, que poderia se manter estável ou até crescer, cai em mais de um terço. Dos nove senadores que o partido tinha, sete encerrariam seu mandato em 2019. Quatro tentaram a reeleição, e dois conseguiram: o gaúcho Paulo Paim e o pernambucano Humberto Costa. A paranaense Gleisi Hoffmann preferiu disputar uma vaga na Câmara, o cearense José Pimentel ficou fora do páreo por decisão do partido, e a piauiense Regina Sousa será a nova vice-governadora do seu estado; sua saída deixa uma vaga no Senado para o MDB, partido de seu suplente. Com a eleição de Jaques Wagner, na Bahia, e Rogério Carvalho, em Sergipe, o PT entrará a próxima legislatura com cinco senadores, perdendo o posto de terceira maior bancada no Senado. Na Câmara, a situação é um pouco melhor: o partido deve continuar a ser a maior bancada, mas com 57 deputados, longe dos 70 que havia eleito em 2014.
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Uma parcela expressiva dos brasileiros, assim, dá um recado bastante veemente: não quer o Brasil comandado de dentro de uma cela em Curitiba, por um criminoso condenado. A população vai percebendo no que antigo slogan em que “a esperança vencia o medo” acabou se transformando: nos dois maiores esquemas de corrupção da história do país, que fraudaram a democracia brasileira pela compra de apoio parlamentar, viciando a separação de poderes; na exaltação dos responsáveis por tais esquemas, aclamados até hoje como “guerreiros do povo brasileiro”; na cumplicidade com algumas das piores ditaduras latino-americanas; e em uma política econômica que nos trouxe a pior recessão da história do país, para ficar em apenas alguns pontos da “herança maldita” do petismo. E o brasileiro também amadurece democraticamente ao tomar consciência de que esse quadro não é construído apenas por quem está à frente do Poder Executivo, mas só pode surgir quando o Legislativo lhe dá suporte. O Brasil ganha quando tal projeto de poder é enfraquecido.