O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi assunto recorrente nos últimos dias, inclusive em declarações do presidente da República, graças à divulgação dos números fechados de 2022 e do último trimestre do ano passado. Lula veio a público para, como de costume, assacar críticas e desqualificações sobre seu antecessor, Jair Bolsonaro, chegando a usar uma expressão ambígua. “A economia brasileira não cresceu nada, nada, no ano passado”, declarou Lula, adicionando que “o desafio que temos agora é fazer a economia voltar a crescer, e temos de fazer investimentos”. A primeira parte da fala presidencial é falsa; já a segunda parte é um objetivo que deve ser assumido por todos os governos em todos os momentos.
O PIB brasileiro caiu 0,2% no quarto trimestre de 2022 em relação ao trimestre anterior, mas a economia brasileira fechou o ano passado com crescimento de 2,9% em relação a 2021, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira, 2 de março. A queda do PIB no quarto trimestre sobre o trimestre anterior é verdadeira, mas a declaração de Lula está muito longe da verdade, pois ele disse que a economia “não cresceu nada, nada” no ano passado. Ao fazer tal declaração ele pretendeu, por óbvio, que parte da população ficasse com a impressão de que o ano de 2022 havia sido um fracasso de Bolsonaro em termos de crescimento econômico.
A expressão de Lula “a economia brasileira não cresceu nada, nada” é exemplo perfeito de fake news, com a agravante de vir do chefe da nação
Uma mentira é útil quando a verdade não serve para o objetivo que se quer com a crítica. Se não é possível desmerecer alguém falando verdades, passa a ser comum que políticos e governantes não se envergonhem em mentir, torcer, distorcer e dar declarações falsas, mesmo que elas possam ser desmentidas facilmente. No momento em que a própria Justiça anda tentando parecer zelosa no combate às tais fake news (notícias falsas), a expressão de Lula “a economia brasileira não cresceu nada, nada” é exemplo perfeito de fake news, com a agravante de vir do chefe da nação, de quem se espera seriedade e honestidade.
Sempre que há troca de governo e o novo presidente da República tenha vencido o presidente anterior ou o candidato por ele indicado, a baixeza do discurso político corrente dita que o novo governante fale mal e desqualifique seu antecessor o tempo todo, nem que para isso seja preciso mentir abertamente. Após a redemocratização, foi assim com Collor desqualificando seu antecessor, José Sarney; o próprio Lula criticara Fernando Henrique Cardoso de todas as formas possíveis (ficou marcada a expressão “herança maldita” que Lula, mentirosamente, dizia ter herdado de FHC); o hábito se repetiu com Bolsonaro, quando assumiu desqualificando Dilma Rousseff e o PT – por mais que se reconheçam todos os esquemas de corrupção montados pelo partido e os erros grotescos na condução da economia, que levaram o Brasil à recessão de 2015-16; agora, o triste ritual se repete com Lula criticando Bolsonaro, seja com verdades ou com mentiras.
Todos os governantes, sem exceção, executam medidas boas e medidas ruins, políticas acertadas e políticas erradas, em todas as áreas da administração pública; logo, um balanço honesto sobre os governos requer listar seus acertos e seus erros para, a partir daí, extrair um balanço que comparativamente diga se aquele mandato teve um saldo positivo ou um saldo negativo. De qualquer forma, fato é que o PIB cresceu em 2022, mas teve queda no último trimestre, lembrando que o principal elemento político a interferir no cenário geral da nação naquele trimestre foi a vitória de Lula no pleito de outubro. É legítimo perguntar se o resultado da eleição teve influência, negativa ou positiva, no desempenho da economia dali em diante.
A economia e todos os seus movimentos de produção, circulação, acumulação e consumo, emprego, renda e poupança são resultado de bilhões de decisões individuais diárias de todos os agentes econômicos internos e externos – pessoas, empresas, governos e investidores. Os agentes econômicos tomam decisões que, em seu conjunto, agem sobre a economia e a sociedade em todos seus aspectos e determinam os rumos de todas as variáveis econômicas, políticas e sociais. Nos últimos dias, os jornais noticiaram que o resultado do PIB no quarto trimestre do ano passado confirmou um processo de desaceleração pelo qual a economia brasileira vinha passando desde o início da segunda metade de 2022, justamente o período em que a campanha eleitoral estava em andamento e o país se viu dividido, a ponto de a eleição de Lula se dar em uma vitória frágil, conferida por apenas metade do eleitorado que optou por um dos dois candidatos no segundo turno.
Mas Lula não parece interessado em acalmar os ânimos e reduzir o divisionismo imperante na sociedade brasileira. Bolsonaro pode ser criticado, pois todos os governantes cometem erros, mas a afirmação lulista de que “o PIB não cresceu nada, nada” é mentira e até mesmo desnecessária, a não ser a mera vontade de disparar críticas inverídicas. Por fim, a queda do PIB no quarto trimestre de 2022 precisa ser examinada com olhar técnico e competente, para ser entendida e tratada, pois a prioridade maior deve ser o crescimento do PIB, emprego e renda. Segundo declarações do IBGE, a desaceleração no segundo semestre do ano passado atingiu mais duramente a indústria de transformação e o comércio, e aí está o começo do problema, que precisa de governantes sérios e capazes de ajudar na compreensão das causas e encaminhar as soluções de que tanto o país necessita.
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