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Editorial

O PIB avança, mas ainda há um longo caminho pela frente

Proposta que altera fórmula de cálculo do ITR com vistas a aumentar arrecadação encontra resistência do setor agropecuário.
Agronegócio mais uma vez puxou o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2021. (Foto: Michel Willian/Arquivo/Gazeta do Povo)

O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre de 2021 surpreendeu o mercado financeiro: a mediana das previsões era de aumento de 0,8% no PIB, mas os dados do IBGE mostraram avanço de 1,2% na comparação com o último trimestre de 2020. É um dado bastante positivo, que reforça as expectativas de que o país consiga crescer 4% ou até mais neste ano, mas que também mostra o ritmo bastante desigual da recuperação econômica pós-pandemia, com alguns setores mostrando muito mais dinamismo que outros.

Como já ocorreu em vários outros períodos, com ou sem crise, o agronegócio mais uma vez se destaca como o motor do crescimento, avançando 5,7% no primeiro trimestre de 2021 graças a boas safras, aumento de produtividade e o bom momento dos preços internacionais das commodities agrícolas. Em compensação, indústria e serviços ainda têm um desempenho muito fraco, embora ao menos já estejam no campo positivo: 0,7% e 0,4%, respectivamente.

Ainda há um caminho longuíssimo a ser percorrido para simplesmente conseguirmos voltar aonde estávamos no início da década passada, antes da crise que o petismo legou ao Brasil

Quando a comparação é feita entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2020 (sem pandemia em janeiro e fevereiro, mas com a primeira rodada de restrições fortes em março), a indústria se descola dos serviços: aquela cresceu 3%, enquanto estes recuaram 0,8%. As causas não são difíceis de encontrar, já que a própria natureza de muitos serviços, dependentes do contato interpessoal, torna a atividade mais vulnerável a qualquer imposição de medidas restritivas como as que continuam a ser verificadas em várias cidades e estados. Alguns setores específicos, como o de eventos, nem chegaram a se beneficiar com os períodos em que as restrições sofreram algum grau de relaxamento. Outros ainda são prejudicados pela falta de planejamento e critérios claros por parte de governos estaduais e municipais, sendo sempre surpreendidos por fechamentos e reaberturas súbitos.

Como garantir que esses 1,2% sejam apenas o início de uma verdadeira retomada da economia, em vez de serem seguidos por um desempenho mais fraco ou até mesmo uma retração nos trimestres seguintes? Falando ao canal Globo News nesta quarta-feira, Bruno Funchal, secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, lembrou o discurso insistentemente repetido por seu chefe, Paulo Guedes: “Quanto maior a velocidade da nossa vacinação, mais rápida a volta à normalidade, maior vai ser o crescimento deste ano e do ano que vem”, disse Funchal. Uma boa notícia neste sentido é o acordo finalmente assinado nesta terça-feira para que a Fiocruz passe a produzir localmente o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca, reduzindo a dependência brasileira de insumos importados.

Retomar os níveis pré-pandemia já será um acontecimento a ser celebrado, mas é preciso lembrar que, quando o mundo foi varrido pela Covid-19, o Brasil ainda estava patinando para se recuperar de outra crise, a herança maldita da recessão lulopetista de 2015-2016. Ainda há um caminho longuíssimo a ser percorrido para simplesmente conseguirmos voltar aonde estávamos no início da década passada – o exército de desempregados, desalentados e subempregados é a prova mais evidente das dimensões do desafio que o Brasil tem pela frente. A vacinação rápida é essencial, mas não é tudo: a continuidade das reformas, a retomada da responsabilidade fiscal, a ampliação da liberdade econômica, a otimização da ação estatal e o incentivo ao setor privado é que darão as condições para o país seguir crescendo e realizar o potencial que a recessão e a Covid represaram.

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