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Puxado pela recuperação nos serviços, o PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2022 cresceu 1% na comparação com o quarto trimestre de 2021, de acordo com dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número veio acima da expectativa do governo federal, que projetava um crescimento de 0,8%, mas abaixo das estimativas do mercado financeiro, que esperava alta de 1,2%, melhorando o desempenho do início de 2021. Com isso, o acumulado dos últimos quatro trimestres está em 4,7%, e o PIB retornou a nível semelhante ao do início de 2015, logo antes de a grande recessão lulopetista destruir o país. O indicador já supera em 1,6% o quarto trimestre de 2019, o último anterior à pandemia de Covid-19, e está 1,7% abaixo do primeiro trimestre de 2014, o melhor momento da economia brasileira.
O agronegócio, que tradicionalmente tem sido o “puxador” do PIB, teve queda de 0,9% na comparação com o fim de 2021; em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a redução foi ainda maior, de 8%. O resultado se deve principalmente à queda na colheita de soja, milho e arroz – culturas que correspondem a cerca de 90% de toda a produção nacional de grãos –, consequência da estiagem que atingiu várias regiões do país nos últimos meses; a quebra da soja no Paraná foi de 40%, e chegou a 55% no Rio Grande do Sul. Ainda que as perspectivas para o segundo trimestre sejam melhores, ainda há uma chance razoável de o agronegócio não ter o mesmo efeito positivo sobre o PIB geral que teve em outros anos. Já a indústria, depois de ter crescido 4,5% em 2021, voltou a patinar, com avanço de apenas 0,1% no primeiro trimestre desse ano.
A incógnita é sobre até onde vai o fôlego dessa recuperação do setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, e se há chance de a indústria voltar a crescer
O setor de serviços continua a se beneficiar do recuo na pandemia de Covid-19, consequência do esforço de vacinação e da prevalência de variantes menos agressivas do Sars-CoV-2. O primeiro trimestre desse ano viu uma explosão de casos com o surgimento da ômicron, mas internações e mortes não seguiram a mesma curva. Com isso, atividades ligadas a eventos, turismo, alimentação fora de casa e quaisquer serviços necessariamente presenciais continuaram se reerguendo, depois de terem sido as mais afetadas pelas restrições sanitárias impostas no início da pandemia para conter a disseminação do coronavírus. No mês de março, diversos estados passaram a relaxar suas regras para o uso de máscaras, até mesmo em locais fechados, em um sinal de que o pior momento da Covid-19 havia ficado para trás, embora números mais recentes da doença e a chegada do inverno, caracterizado pelo aumento nos índices de doenças respiratórias, demonstrem que ainda é necessário tomar cuidados.
A incógnita é sobre até onde vai o fôlego dessa recuperação do setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, e se há chance de a indústria voltar a crescer. A inflação alta continua engolindo o poder de compra do brasileiro; o desemprego, apesar de ter voltado a recuar, ainda está acima de 10%; e a renda média do trabalhador empregado caiu 7,9% nos últimos 12 meses. Esses fatores, aliados à queda no investimento (-3,5% no primeiro trimestre de 2022 na comparação com o quarto trimestre de 2021, e -7,2% em relação ao primeiro trimestre de 2021), vêm mantendo baixas as previsões para o crescimento da economia brasileira neste ano – as estimativas oscilam entre 1% e 1,5%, com o governo sendo responsável pela visão mais otimista.
O crescimento de 4,6% do ano passado se deu sobre uma base deprimida, resultado da recessão provocada pela pandemia em 2020. Mas existe uma chave para o Brasil seguir crescendo neste mesmo ritmo e de forma constante: investimento na casa dos 25% do PIB (contra os atuais 18,7%), mais liberdade econômica e menos intervencionismo, Estado enxuto e eficiente, setor privado pujante, ajuste fiscal bem feito, com reformas estruturantes. Em época eleitoral, não faltarão candidatos defendendo este programa, tanto para o Poder Executivo quanto para o Poder Legislativo; uma tarefa importante do eleitor é identificar aqueles que realmente estão dispostos a colocá-lo em prática, em vez de usar o discurso liberal apenas para conquistar votos.