Mede-se o sucesso dos programas sociais não pelo número das pessoas assistidas, mas pelo número das que conseguem sair deles e recuperar a própria dignidade pela via do trabalho. É justo que o governo Lula coloque o Bolsa-Família entre seus principais feitos afinal, deve-se reconhecer que 11 milhões de brasileiros carentes só estão podendo saciar a fome graças aos trocados que recebem do governo. Contudo, outros milhões permanecem como candidatos potenciais a fazer companhia aos primeiros porque, na outra ponta, o governo fracassa em sua obrigação de abrir oportunidades de emprego e renda em quantidade e ritmo necessários.
Essa lamentável evidência emerge mais uma vez com a revelação, quinta-feira, do pífio resultado do PIB soma dos bens e riquezas produzidos no país no primeiro trimestre, divulgado pelo IBGE. Nesse período, o crescimento brasileiro foi de apenas 0,5% em relação ao trimestre anterior. Quando a comparação é feita com o mesmo período do ano passado, o incremento foi de 1,2%. Em qualquer dos casos, os índices são um claro sinal de que a economia vive uma nova conjuntura de quase paralisia. O que significa que não estão criados empregos em quantidade minimamente compatível com a expansão da demanda. Permanece, assim, a tendência ao empobrecimento e à marginalização de vastos contingentes da população, de modo especial nas camadas mais jovens.
Não é com Bolsa-Família que se resolve esse problema. Programas sociais são necessários, mas é preciso encará-los como paliativos, de alcance temporário, e não como solução definitiva e permanente em quaisquer políticas de combate à pobreza. O que de fato reduz a miséria, de forma sustentável, é a combinação de crescimento econômico com políticas que garantam a justa distribuição de seus frutos. Este, infelizmente, não tem sido o centro do esforço de um governo que pregou um "espetáculo de crescimento" e emprego para 10 milhões de pessoas.
Para que fosse viável o cumprimento dessas boas intenções, o país precisaria ter experimentado uma taxa média anual próxima dos 6% mais do que o dobro do que foi efetivamente alcançado nos últimos três anos, de 2,8%. Lembre-se de que a meta anunciada pelas autoridades econômicas no início de 2006 era a de se chegar ao seu final com um PIB superior em 4%. Os mais otimistas já consideram lucro se alcançarmos 3%.
Enquanto isso, entre os emergentes, a China deverá superar 11%; a Índia se aproximará dos 10%; o México e o Chile, perto dos 5%. Todos repetindo a mesma performance de maneira sustentada e conseguindo reduzir ano a ano seus níveis históricos de pobreza. Pergunta-se: por que o Brasil não consegue o mesmo êxito?
A resposta inteira, evidentemente, não cabe neste espaço editorial, pois que envolveria a análise de componentes que se perdem na história e na multiplicidade de outras causas. Mas há suficientes razões para identificar na perpetuação do tripé juros altos, elevada carga tributária e câmbio distorcido os fatores que mais estão pesando para frear a economia. Todos fatores que, diga-se de passagem, são internos e sobre os quais o governo tem poder para intervir e mudar.
É por conta dessas causas que os níveis de investimento público e privado são tão pequenos; que a agropecuária e a indústria produzem menos do que poderiam; que os exportadores vendam aquém do esperado; que os produtos importados, em razão do câmbio alto, encontrem no Brasil território livre para entrar e concorrer com a indústria nacional. E que, conseqüentemente, se criem tão poucos empregos.
Enquanto isso, o que mais se ouve na campanha da reeleição presidencial é a promessa de aumentar o público atendido pelo Bolsa-Família. Não poderia ser diferente. Infelizmente, é isto que rende voto.
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