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A libertação de sete prisioneiros políticos cubanos, de um total de 52 que serão soltos, pode ser o primeiro passo em direção a uma nova etapa da história política de Cuba. Pelo menos, é nisso que acreditam os novos homens livres – Julio Cesar Galvez, Lester Gonzá­­lez, Omar Ruiz, Antonio Villarreal, Jose Luis García Paneque, Pablo Pacheco e Ricardo González Alfonso – que chegaram ontem à Espanha. Contudo, como já ressaltaram críticos do regime comunista, apesar de o momento ser extremamente positivo e de felicidade, há que se ver com cautela tais libertações.

Devido à falta de transparência no processo por parte do governo cubano, algumas informações ainda são desencontradas. Segundo Laura Pollán, líder do movimento Damas de Branco, que reúne familiares de opositores políticos presos em Cuba desde 2003, no domingo passado 26 dos 52 prisioneiros políticos anistiados já haviam sido informados e questionados sobre uma eventual viagem à Espanha. Desse grupo, 20 teriam aceitado o exílio e outros seis teriam manifestado o desejo de permanecer na ilha. Ainda não se sabe se eles realmente poderão continuar em seu país.

Já o jornalista Alejandro González Raga, que integrou um grupo de presos políticos libertados em 2008, considera as anistias como deportações, pois, segundo ele, "das prisões (os dissidentes) foram obrigados a voar para a Espanha. Estão fazendo alguns movimentos táticos, lavando um pouco a imagem para que no fundo não precisem fazer mudanças no que é essencial: o sistema jurídico, o repressivo e o policial".

Por sua vez, o governo dos Estados Unidos viu com bons olhos a libertação, contudo fez também algumas ressalvas. "Nós aplaudimos os esforços da Igreja Católica cubana, da Espanha e de todos os outros que trabalharam para a libertação dos prisioneiros políticos em Cuba", disse o porta-voz do Departamento de Estado, P. J. Crowley. "Apesar de os Estados Unidos continuarem a pedir que todos os presos sejam libertados de forma incondicional e imediata, este é um desdobramento positivo que esperamos que represente um passo em direção a um maior respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais em Cuba", acrescentou.

A diplomacia brasileira, que costuma concordar com as decisões tomadas pelos governantes da ilha ou simplesmente silenciar quando instada a tomar posições sobre assuntos polêmicos de Cuba, desta vez resolveu aplaudir. "Ficamos satisfeitíssimos. Aplaudimos o gesto do governo cubano. Porque (o acordo) vai apontando em um sentido que nós sempre dissemos que deveria ser o certo, que as mudanças econômicas também se reflitam na parte política." Foi com essa frase que o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, comemorou a libertação.

Tal atitude revela que o governo brasileiro felizmente parece ter mudado de discurso se comparado com a atitude tomada pelo presidente Lula, em fevereiro, quando visitou a ilha. Na ocasião, Lula teve duas atitudes imperdoáveis do ponto de vista dos direitos humanos. A primeira ocorreu quando se viu diante da notícia de que, no mesmo dia de sua chegada, morria vítima de greve de fome um pedreiro preso porque ousara lutar contra o regime. De Lula ouviu-se um constrangedor silêncio, ou melhor, um murmúrio de condenação ao gesto extremo do dissidente.

A segunda ocorreu um mês depois quando resolveu se pronunciar: "Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem libertação? Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos", disse ele. Como se lá houvesse justiça e se legítimo fosse o modo como o regime trata aqueles que dele discordam.

Um exemplo prático da concordância do governo brasileiro com as práticas nada ortodoxas do regime cubano foi a deportação sumária dos dois boxeadores cubanos, que fugiram dos Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro. No dia 22 de julho de 2007, Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara não foram à pesagem obrigatória para suas lutas, quando suas ausências foram notadas. Os pugilistas foram encontrados pela Polícia Federal brasileira no dia 2 de agosto na cidade de Araruama, no Rio, sem documentos. Em 4 de agosto, eles foram deportados para Cuba. Segun­­do o então ministro da Justiça, Tarso Genro, eles pediram para voltar porque suas famílias estavam sendo ameaçadas, mas foi grande a polêmica sobre a negligência do governo brasileiro num caso em que se poderia ter concedido asilo aos dois.

Fato é que, mesmo ainda não sendo a forma mais adequada, já que os ex-prisioneiros talvez não possam continuar em seu país e tenham de viver como exilados políticos no exterior, este é um primeiro passo para que Cuba comece a rever determinadas práticas. Não é possível aceitarmos que em pleno século 21 ainda existam regimes políticos tão atrasados do ponto de vista das liberdades individuais e dos direitos humanos, como Cuba e Coreia do Norte, por exemplo, que defendem suas imposições em nome de uma suposta sociedade ideal.

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