O deputado Delegado Waldir, líder do PSL na Câmara.| Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
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O PSL entrou em uma guerra total fratricida nos últimos dias, marcada pela disputa aberta entre os aliados do presidente Jair Bolsonaro e políticos leais ao presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar. Os envolvidos têm recorrido a todo tipo de arma: divulgação de áudios – inclusive de conversas telefônicas do próprio Bolsonaro –, remoção de lideranças no Congresso e em diretórios regionais da legenda, afastamento de deputados e divulgação de listas contrárias e favoráveis à manutenção do deputado goiano Delegado Waldir na liderança do partido na Câmara. O parlamentar também foi gravado, prometendo “implodir o presidente” e chamando-o de “vagabundo”. O partido chegou até mesmo a entrar em obstrução durante a votação de um projeto de lei de interesse do Planalto. A relação azedou de vez após o “escândalo dos laranjas”, envolvendo o uso de dinheiro do Fundo Partidário e que levou a ala bolsonarista do partido a exigir a “abertura da caixa-preta” da legenda.

Antes de 2018, o PSL, como várias outras legendas, não passava de um partido pequeno, sem personalidade definida, dominado por Bivar. O cacique já havia derrotado o Livres, uma ala libertária que tentou dar um perfil ideológico ao PSL, e que deixou de vez o partido com a entrada de Bolsonaro (boa parte dos membros do Livres acabou se filiando ao Partido Novo). Se algum crédito há de ser dado a Bivar, foi o fato de ter apostado em Bolsonaro, que procurava um partido pelo qual se candidatar, em um momento no qual, apesar da liderança do então deputado federal nas pesquisas de intenção de voto, boa parte dos analistas políticos ainda apostava em sua desidratação e em um segundo turno que repetiria a disputa entre petistas e tucanos. Bolsonaro trouxe consigo uma série de candidatos ao Congresso, e o resultado veio nas urnas: o PSL elegeu 52 deputados e quatro senadores, contra um deputado e nenhum senador em 2014. Mesmo parlamentares que tomaram o lado de Bivar na disputa atual não podem negar que devem sua eleição, em boa parte, ao bolsonarismo.

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A disputa interna dentro do PSL seria de pouco ou nenhum interesse se não fosse pelo efeito que pode ter em assuntos cruciais para o futuro do país

Uma diferença relevante entre agora e dois anos atrás é justamente o dinheiro que está por trás do escândalo que escancarou as divergências internas. Se antes o domínio sobre o PSL era mera questão do prestígio advindo do posto de cacique e da possibilidade de decidir o destino de alguns trocados do Fundo Partidário, a bancada eleita em 2018 deu ao PSL o direito à segunda maior fatia desse dinheiro tomado do contribuinte brasileiro, atrás apenas do PT. E, mesmo que Bolsonaro e os parlamentares fiéis a ele migrem para outra legenda ou fundem um novo partido, Bivar continuará tendo essa bolada à sua disposição até 2022, pois o artigo 41 da Lei dos Partidos Políticos determina que o critério de distribuição do dinheiro é a votação obtida na última eleição para a Câmara, e não o tamanho da bancada no momento da divisão.

A disputa interna dentro do PSL, a bem da verdade, seria de pouco ou nenhum interesse se não fosse pelo efeito que pode ter em assuntos que, estes sim, são cruciais para o futuro do país. Bolsonaro já não pode se gabar de ter uma ampla base aliada, dependendo dos ânimos do Centrão para conseguir aprovar qualquer coisa – não apenas as grandes reformas, que exigem 308 deputados, mas também os projetos que dependem de maioria simples nas casas legislativas. Ao se envolver na luta pelo poder no partido, tentando emplacar o filho Eduardo como novo líder em substituição ao Delegado Waldir, Bolsonaro precipitou ou aprofundou um processo que não deixa de ser uma aposta arriscada. Por um lado, é possível que mesmo o grupo que tomou o lado de Bivar continue comprometido com a pauta de Bolsonaro e mantenha seu apoio às reformas; mas, se a ruptura for completa a ponto de afetar também o aspecto ideológico, pelo menos metade da legenda se tornará oposição – e isso quando ainda falta uma votação no Senado para finalmente aprovar a reforma da Previdência, sem falar em outros temas como as reformas administrativa e tributária, as privatizações, o pacote anticrime de Sergio Moro e outras medidas de que o país necessita.

A questão, portanto, não é o futuro partidário de Bolsonaro e dos deputados e senadores que lhe são fiéis; nem se o bolsonarismo é maior que o PSL; nem a dúvida sobre se Bolsonaro precisa do PSL mais que o PSL precisa dele. A questão é o futuro da pauta que elegeu o presidente – liberalismo econômico, defesa da vida e da família, firmeza em relação à criminalidade –, mas que só pode ser implantada se o Legislativo permitir. Se da disputa emergirem grupos políticos rivais, só podemos esperar que os ressentimentos e rivalidades não tirem um apoio importante a plataformas benéficas para o país.