Não adianta fazer pouco e dizer que o Pisa (sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Alunos) não passa de uma prova entre tantas, ou que nem sequer os Estados Unidos andam muito bem nos rankings. Não cola. O Pisa, promovido faz pouco mais de uma década pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, merece todo o respeito. Melhora a cada triênio. A cada nova rodada põe países em confronto, não na economia, mas na capacidade de promover conhecimento, com folga a maior riqueza das nações.
O Brasil participa do Pisa como convidado. O exame voltado para estudantes de 15 anos tem seu ponto de fusão nos países desenvolvidos, mas chama os que ainda estão a caminho para participar. Prova de fogo. Os resultados são sempre surpreendentes. Os índices avaliados em 2012 apontam a vantagem técnica dos Tigres Asiáticos, como Cingapura; a proficiência dos canadenses e dos nórdicos; os vacilos dos latinos, incluindo o Chile. Não é agradável conferir os resultados em especial para nós, que mais uma vez sambamos nas últimas posições.
O Pisa tem seus méritos. O primeiro deles é se deter no básico, sem o qual a educação fica à beira do cadafalso. Avalia Matemática, Ciência e Linguagem ou Leitura, como se diz, termo que provoca certa confusão. Os avaliadores querem saber da capacidade de interpretação, o que é leitura a rigor, mas não custa dizer que, se desse nota para leitura em voz alta, o estrago seria o mesmo.
Novidade mesmo é que o Pisa, na edição 2012, investigou a capacidade de resolver problemas. Era de se esperar que adotasse o procedimento. Estava implícito na natureza do teste. Agora está explícito. Os jornais chamam a avaliação de "raciocínio lógico", não sem uma dose de injustiça. A expressão barateia o Pisa ao rés do mundo corporativo, dos testes do trânsito ou de um quiz para derrubar participantes de reality
shows. Nada disso a resolução de problemas é um procedimento didático de altíssima elaboração, tão entranhado aos expedientes da escola quanto as "contas de mais".
Aí reside a encrenca. Para melhorar o desempenho dos alunos brasileiros na "resolução de problemas" é preciso investir em qualidade de ensino. Falamos nisso desde que um barraco de pau-a-pique abrigou a primeira escola jesuíta nessas fronteiras. Mas é melhor repetir. Preparar exercícios que apliquem a teoria a situações reais exige técnica, intelecto, dedicação e vivência do mundo. Os professores suam sangue para bolar um bom exercício no gênero e, não raro, precisam da ajuda especializada. Do contrário, vão preferir a segurança de um questionário convencional.
Mesmo os melhores alunos brasileiros não podem dar o que não têm. Não é nenhuma heresia afirmar que, à revelia de todos os esforços de educadores dedicados aqui e ali, nossas salas de aula ainda são solenes observatórios do cocoruto alheio. A tática da resolução de problemas, por sua vez, além de exigir destreza do professor, mexe com a geografia em sala de aula. Pede trabalhos em grupo, carteiras em círculos, seminários, entre outros movimentos que, num ambiente mais convencional, podem ser tomados por barulho e desordem.
Vale dizer que a "resolução de problemas" mexe não só com a sala e com a dinâmica das aulas. Altera o lugar do professor, que de falante convulsivo e detentor de gabarito passa a mediador das inúmeras validades que os alunos vão levantar no decorrer do exercício. Fazer essa passagem equivale a cursar uma pós-graduação. Ou a se converter.
Do ponto de vista das políticas educacionais, a "resolução de problema" está dada como uma urgência pedagógica. Do ponto de vista das políticas públicas, a situação é mais obscura. O verdadeiro consórcio dos livros didáticos, as salas cheias de alunos e a burocracia escolar concorrem para tornar esse tipo de prática educacional uma missão impossível. O Estado que administra a escola parece querer mantê-la na rédea curta da repetição de procedimentos, ainda que diga que não.
O Pisa colocou o Brasil em 38.º lugar entre os 44 países participantes da avaliação. Teria sido pior se avaliasse não os alunos, mas os gestores do sistema escolar e os governos que fazem da educação sua fonte de porcentagens a serem exibidas em campanha, e não um lugar de experiências gratificantes de conhecimento. É disso que o teste está tratando.
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