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Editorial

O que os evangélicos querem

Lula foi vaiado na Marcha para Jesus em São Paulo, em 2023: reprovação do presidente entre evangélicos está acima da média nacional. (Foto: Reprodução/Twitter)

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Desde a campanha eleitoral, o petismo se preocupou em conquistar o apoio dos evangélicos. Para atingir esse objetivo, usou de mais ou menos sutileza, dependendo do momento: recrutou pastores em apoio a Lula, mas também chegou a propor a infiltração nas escolas dominicais para fazer a cabeça das crianças. A julgar pelos resultados das pesquisas de opinião, de pouco adiantou: pesquisa Datafolha em junho mostrou que, entre os evangélicos, a reprovação ao governo Lula é de 37%, dez pontos acima da média nacional. Mas o governo julga ter achado uma forma de finalmente conquistar esse segmento importante da sociedade.

Durante a tramitação da reforma tributária, o governo fez uma série de acenos à bancada evangélica, concordando com dispositivos dirigidos a igrejas e, possivelmente, qualquer pessoa jurídica que tenha ligação com entidades religiosas, como um hospital ou um veículo de comunicação. Em resposta, os parlamentares manifestaram sua satisfação. O governo “abriu totalmente as portas e deu um passo importante nessa relação com os evangélicos”, afirmou o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP).

Na ausência de qualquer possibilidade de uma convergência de plataformas entre Lula e os evangélicos, apela-se ao clientelismo, que é praticamente a única linguagem que o petismo conhece quando se trata de conseguir apoio

Que esse tenha sido o meio escolhido por Lula para iniciar um “diálogo” não é surpresa alguma. Na ausência de qualquer possibilidade de uma convergência de plataformas, apela-se ao clientelismo, que é praticamente a única linguagem que o petismo conhece quando se trata de conseguir apoio. Na mentalidade petista, basta o dinheiro – de origem lícita ou ilícita, tanto faz – fluir para se estabelecer uma relação amistosa. Mas esta é uma nova demonstração de que Lula e seu partido são incapazes de entender os anseios desta população que cresce cada vez mais e que, mesmo não sendo tão homogênea quanto o termo parece indicar, tem muitas características em comum que são ignoradas pelo petismo.

Medidas de caráter tributário dirigidas a igrejas – e, agora, não nos cabe avaliar quais delas apenas concretizam a imunidade tributária garantida pela Constituição, instrumento de preservação da liberdade religiosa, e quais delas seriam privilégios indevidos – podem agradar a bancada evangélica e são certamente úteis para os pastores, alguns dos quais talvez fiquem mais propensos a elogiar o governo quando se dispuserem a falar de política. Mas o fato é que são ações que pouco dizem ao fiel cristão que leva a sério sua fé e os valores que ela propõe. O que ele espera é algo muito mais simples, mas ao mesmo tempo muito mais difícil de se obter, dada a natureza do petismo: respeito.

O evangélico – e não só ele, mas qualquer cristão, seja católico, ortodoxo ou sem filiação específica – não quer ver suas igrejas sendo tratadas como “máquinas de lavagem cerebral”, nem quer ver sua fé sendo ridicularizada por movimentos identitários que contam com amplo apoio do petismo. Por mais que o evangélico saiba que este governo não compartilha de suas posições sobre temas como a defesa da vida e da família, espera ao menos que essas posições sejam tidas como legítimas dentro de uma sociedade democrática, e não algo que tem de ser “enfrentado” e “combatido”, como chegou a dizer Lula em recente encontro do Foro de São Paulo; da mesma forma, não quer que o conservadorismo moral seja listado como um ingrediente do “fascismo à brasileira”, nem que a pregação e a busca por novos fiéis seja considerada “discurso de ódio”.

Se Lula, o PT e os petistas acreditam ser capazes de conquistar os evangélicos com legislação tributária para as igrejas enquanto continuam a insultar esses cristãos e a promover abertamente – e agressivamente, até – ideias que se chocam frontalmente com os valores que lhes são mais caros, poderá ter uma surpresa nada agradável no futuro. A aposta petista na divisão da sociedade é evidente demais para que milhões de brasileiros passem subitamente a ignorá-la e a endossar quem patrocina ataques cotidianos a sua fé, justamente uma das dimensões mais fundamentais na vida dessas pessoas.

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