A derrota do presidente Nicolas Sarkozy para o socialista François Hollande, no domingo, tem um significado além do retorno da esquerda francesa ao poder depois de 17 anos. O resultado da eleição presidencial na França confirma a insatisfação da população da Europa com as medidas adotadas por seus governantes para enfrentar a crise econômica.
Desde 2010, dos 17 países onde foram realizadas eleições, em 11 as forças governistas perderam. A cor partidária, nesse caso, não tem força decisória. Governos tanto conservadores quanto socialistas e liberais foram destituídos pelo voto. Antes de Sarkozy, o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), havia sido o alvo dos eleitores. Islândia, Dinamarca, Grécia, Grã-Bretanha, Holanda, Irlanda e Portugal são outros países em que a oposição saiu vitoriosa das urnas.
Na Grécia, que também realizou eleições no domingo, o segundo lugar foi conquistado pela Coalizão da Esquerda Radical (Syriza) com 16,6% dos votos, superando o histórico Movimento Socialista Pan-Helênico (Pasok), que obteve 13,4%, deixa ainda mais clara a tendência da população dos países da União Europeia de buscar novos rumos.
Assim como os demais vencedores das eleições depois da eclosão da crise, Hollande e o novo governo da Grécia, que será composto nos próximos dias, têm enormes desafios. O principal deles é como estancar o crescente endividamento e ao mesmo tempo garantir que a economia cresça.
A receita aprovada em março do ano passado por 25 Estados (todos os países membros da UE, exceto o Reino Unido e a República Tcheca) não é respaldada por boa parcela da população. Pelo contrário, o pacto fiscal proposto que prevê profunda redução nos gastos, corte de benefícios sociais e extinção de direitos trabalhistas provocou uma onda de revoltas, levando multidões a protestar em todas as regiões da Europa. Diante do grito das ruas, do aumento da dívida e da pressão dos mercados financeiros, os governos têm se mostrado incapazes.
No discurso da vitória no domingo, Hollande reafirmou sua promessa de não impor mais sacrifícios à população em nome da austeridade exigida pela União Europeia. A posição do socialista francês por um lado atende ao que grande parte do eleitorado está exigindo, mas por outro, cria um impasse na União Europeia, que até então apostava na solução do ajuste fiscal, ou seja, no arrocho.
Não está claro até agora como Hollande viabilizará o aquecimento da economia, condição imprescindível para a geração de empregos, sem abrir mão de seu compromisso de reduzir o déficit francês para 3% no próximo ano e de eliminá-lo até 2017.
O dilema do presidente eleito da França é o mesmo dos demais governos da região. As propostas de renegociação do pacto fiscal enfrenta forte resistência da Alemanha, principal economia do bloco e que tem ditado as regras do jogo após a explosão da crise.
Não menos problemático é o sentimento dos países que estão em melhor situação como Áustria, a Finlândia, Luxemburgo e a própria Alemanha de que estão pagando pelo descontrole orçamentário dos vizinhos. Esses países rejeitam a ideia de terem de arcar com o sacrifício para cobrir o rombo causado pelos outros membros do bloco. E propõem que os países em dificuldades reformem suas estruturas, enfrentem a competitividade e reduzam seus déficits.
O cenário a curto prazo é de mais tensão. A União Europeia, que faz frente a problemas diversos na integração do bloco, terá agora de superar as diferenças em relação à "bomba-relógio" da dívida pública. Aos países emergentes, principalmente o Brasil, não interessa uma Europa estagnada ou em recessão. Mas também não é defensável que a economia europeia saia definitivamente do controle, aumentando a ameaça de implosão do bloco, o que teria consequências irreparáveis para todo o mundo.
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