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Editorial

O repique da inflação

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A inflação continua desafiando qualquer tendência neste ano de 2022. Após dois meses de forte desaceleração, quando caiu de 1,62% em março para 1,06% em abril e 0,47% em maio, o IPCA de junho voltou a subir, registrando 0,67%. Ainda que tenha vindo levemente abaixo do esperado pelo mercado financeiro, o índice foi suficiente para fazer o acumulado de 12 meses subir ligeiramente, de 11,73% em maio para 11,89%.

Todos os nove grandes grupos de preços pesquisados tiveram alta no mês passado, e o setor de serviços, o último a se recuperar do baque causado pelas restrições econômicas para conter a pandemia de Covid-19, tem a inflação acumulada mais alta dos últimos sete anos. No entanto, mesmo com o repique da inflação há alguns números que merecem destaque positivo. Ao contrário do que vinha ocorrendo até pouco tempo atrás, combustíveis e energia elétrica não foram os carros-chefe da inflação de junho – pelo contrário, com queda de 0,72% na gasolina, 6,41% no etanol e 1,07% na energia elétrica; a única exceção foi o óleo diesel, que aumentou 3,82%. Desta vez, o maior efeito individual no IPCA veio dos planos de saúde, que sozinhos responderam por 0,1 ponto porcentual da inflação de junho. Como se trata de um caso em que o reajuste é autorizado por uma agência reguladora, a ANS, este é o tipo de aumento que não deve ocorrer novamente no futuro próximo. Além disso, também houve uma queda no índice de difusão: a porcentagem dos 377 de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE que tiveram alta baixou de 72% em maio para 67% em junho.

As pressões que podem puxar a inflação para baixo são contrabalançadas pelo temor de mais desequilíbrio fiscal

Uma série de circunstâncias está levando economistas e instituições do mercado financeiro a projetar uma nova desaceleração da inflação neste segundo semestre, com chance até mesmo de deflação em julho. A redução forçada das alíquotas de ICMS sobre energia elétrica, combustíveis e telecomunicações, aprovada pelo Congresso em meados de junho, ainda não teve seu efeito totalmente refletido nos índices de inflação. Além disso, uma redução recente nas cotações internacionais de petróleo eliminou a defasagem que se verificava nos preços praticados internamente pela Petrobras, eliminando a necessidade de novos reajustes no curtíssimo prazo, embora seja impossível prever o comportamento do preço do barril nas próximas semanas.

Essas pressões que podem puxar a inflação para baixo, no entanto, são contrabalançadas pelo temor de mais desequilíbrio fiscal, especialmente com a aprovação da PEC dos Benefícios, que aumenta despesas governamentais fora do teto de gastos. Enquanto a proposta ainda amadurecia no Senado, o dólar já superava os R$ 5, depois de ter passado quase um mês abaixo deste valor; com a perspectiva de a PEC passar também na Câmara, a moeda norte-americana já oscila na casa dos R$ 5,40. Além disso, a curva de juros futuros está em alta, significando que os investidores exigem um prêmio maior para seguir emprestando dinheiro ao Brasil, em sinal de maior desconfiança na capacidade do país de manter suas contas em ordem – um movimento que se repete sempre que a classe política abandona a disciplina fiscal.

A este cabo de guerra de desfecho imprevisível ainda se somam as incertezas quanto à economia mundial e à possibilidade de recessão em países desenvolvidos, o prolongamento da guerra na Ucrânia e a insistência chinesa em lockdowns de combate à Covid que interrompem cadeias produtivas globais. As projeções para o IPCA cheio de 2022 estão caindo – nas duas últimas edições do boletim Focus a previsão ficou abaixo de 8% –, mas é possível que a persistência da pressão inflacionária leve o Copom a intensificar ou prologar o aperto monetário atual, com consequências sérias sobre o crescimento e a geração de empregos.

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