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O presidente da Bolívia, Evo Morales, deu, na madrugada de ontem, o tiro de misericórdia na esperança daqueles que, ingenuamente, acreditavam ser possível manter com ele uma convivência cordial e civilizada. Dentre os crentes, o mais entusiasmado era o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – um franco admirador e apoiador do líder cocaleiro desde a recente campanha eleitoral que o levou a conquistar o governo do país vizinho. O tiro de misericórdia foi o decreto de nacionalização da Petrobrás e das demais petrolíferas estrangeiras que operam na Bolívia, cujos campos de produção amanheceram sob ocupação do exército de Morales.

A decisão do governo boliviano não foi exatamente uma surpresa. A promessa de estatizar os hidrocarbonetos dominou o discurso nacional-populista de Morales. Foi confirmada solenemente na posse e minuciosamente preparada nesses seus poucos meses de governo. E transformou-se em ato concreto ontem com a assinatura do "decreto supremo" transferindo para a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) o controle de todos os campos de produção de petróleo e gás.

Apesar de todas as evidências de que as (más) intenções de Evo Morales eram para valer, o presidente Lula e todo o aparato diplomático brasileiro mantiveram o mais absoluto silêncio durante todo o período. A nova e canhestra política externa do Brasil, sempre voltada para a conquista da liderança entre seus vizinhos mais pobres da América do Sul, levou-o a desconsiderar todas as ameaças ao nosso patrimônio e à nossa própria soberania – pois que a Petrobrás não é outra coisa senão a própria encarnação da nossa soberania.

Em nome desta política externa, de evidente inspiração terceiro-mundista da velha e ultrapassada esquerda petista, o governo brasileiro parece ter desconhecido sua responsabilidade de manter sob segurança a estratégica relação econômica com a Bolívia. Além dos investimentos feitos pela Petrobrás em seu território, que montam a mais de US$ 1 bilhão, esqueceu-se também o governo da aguda dependência brasileira do gás natural proveniente das jazidas bolivianas.

O sinal mais concreto de que o governo não estava mesmo disposto a reagir contra as investidas do presidente Evo Morales contra os interesses nacionais viu-se no caso da siderúrgica EBX – um empreendimento privado brasileiro de US$ 200 milhões que garantiria emprego para 6 mil pobres bolivianos. A siderúrgica, em fase final de implantação, foi expulsa de lá há dez dias, de forma humilhante. Não houve absolutamente nenhuma manifestação do Itamaraty, nenhuma palavra do presidente Lula. Esse silêncio, essa inação do Brasil frente ao problema, mostrou a Morales que o território encontrava-se livre para agir como quisesse.

Chegou-se, então, ao caso extremo da Petrobrás – empresa estatal da qual somos, todos os brasileiros, direta ou indiretamente, seus acionistas. E a pergunta que se faz é se Lula e sua diplomacia continuarão tão passivos quanto estiveram até agora. O silêncio consente?

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