A revista britânica The Economist, considerada a mais importante publicação de economia do mundo, voltou novamente suas baterias de efusivos elogios ao Brasil, desta vez para destacar o sucesso e o modelo do agronegócio brasileiro. Segundo a revista, o mundo deveria prestar atenção na agricultura e na cadeia de produção do setor primário brasileiro, para entender as causas do extraordinário êxito ocorrido nos últimos 20 anos e para copiar o modelo adotado pelo Brasil. A própria matéria se encarrega de listar algumas causas tidas como responsáveis pelo aumento da produção, da produtividade do agronegócio e pelo grande sucesso feito pelo setor, o que pode ser observado pelas exportações dos produtos agropecuários e seus derivados.
O Brasil aumentou a área plantada, melhorou a produtividade, elevou a produção e melhorou a qualidade dos produtos. Segundo analistas especializados, esse progresso se deu em razão de desenvolvimento científico e de práticas inovadoras na gestão da atividade. Desenvolvimento tecnólogico de sementes, de manejo e de colheita; melhoria nos métodos de gestão, que passou a ser bastante profissionalizado; investimento em pesquisa e desenvolvimento, sobretudo feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária); e abertura para o mercado internacional. Essas são algumas das causas que estariam na raiz do êxito do agronegócio brasileiro, alvo de elogios da revista e de analistas internacionais. A indagação principal proposta pela revista é: o que levou o agronegócio brasileiro a seguir esse caminho, enquanto a agricultura europeia segue atrasada e protegida da competição externa?
Segundo opinião da revista e de analistas de mercado, um momento decisivo para a revolução do agronegócio brasileiro ocorreu no início dos anos 90, ainda no governo Collor, quando os subsídios, o protecionismo e o paternalismo estatal foram retirados da agropecuária, lançando-a numa corrida desenfreada para competir com os produtores estrangeiros. Sem a proteção do Estado e tendo de se modernizar para sobreviver, o campo e a agroindústria não tiveram saída a não ser melhorar todo o ciclo econômico do setor. Muitos produtores foram levados à falência, mas os que sobreviveram incorporaram novas tecnologias, melhoraram a produtividade, adotaram modelos modernos de gestão, surgiu uma nova classe de dirigentes rurais no país, e o sucesso foi o coroamento de anos e anos de práticas eficientes.
O governo Collor foi criticado com dureza, já que a retirada da proteção governamental e a exposição à competição internacional ocorreram de forma tumultuada, sem política de transição e sem amortecedores dos efeitos colaterais, sobretudo a falência de milhares de produtores. Até hoje, há quem critique o processo pelo qual o Brasil iniciou sua revolução no campo, mas, ainda que o processo possa ter sido tumultuado e defeituoso, ao final o setor provou que, premido pelas circunstâncias, não só sobreviveu como melhorou e tornou-se modelo agora elogiado no exterior.
A revista The Economist costuma fazer críticas à agricultura subsidiada do Japão e da Europa que, além de não progredir em razão da proteção estatal que as livra da competição internacional, toma bilhões de dólares de recursos dos tesouros públicos, dinheiro que seria necessário para outros programas governamentais. A revista afirma ainda que o mundo "deveria aprender com o Brasil maneiras de evitar uma crise de alimentos", ao referir-se a dados divulgados pela FAO, que é a agência da ONU para alimentação e agricultura, os quais apontam a necessidade de um crescimento na produção mundial de grãos da ordem de 50% e de 100% na produção de carne, para poder atender à demanda até 2050. Visto da perspectiva das análises, o agronegócio brasileiro parece estar em uma fase fantástica, o que não está errado. Entretanto, há um fantasma que tem assustado os empresários do setor há algum tempo: a baixa taxa de câmbio, que insiste em se manter em níveis insuficientes para remunerar adequadamente alguns segmentos do setor exportador brasileiro.