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editorial

O tamanho dos custos

 | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
(Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Conforme vai chegando ao fim o 9º dia de greve dos caminhoneiros, à medida que as lideranças difusas do movimento vão recomendando o encerramento da paralisação, uma vez que o governo já atendeu até mais do que as reivindicações iniciais da categoria, as atenções do país vão se voltando à normalização do abastecimento, em especial dos bens de necessidade básica. Nesses dez dias, o Brasil já perdeu, em estimativas conservadoras, cerca de R$ 34 bilhões em vários setores da economia. A grande preocupação, agora, é que a radicalização dos setores mais extremados, que resistem a sair das estradas, gere pânico desnecessário e agrave um quadro já de alerta. Nesse momento difícil, é preciso serenidade enquanto o setor de logística, amparado pelas autoridades, restabelece a normalidade no transporte e no abastecimento dos estoques.

Por mais que haja quem simpatizasse com as demandas dos caminhoneiros, a falta de razoabilidade das ações de bloqueio vai cobrando um preço cada vez mais alto. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), 107 das 109 unidades de produção estão paradas. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) já tinha informado que, até o domingo, perto de 70 milhões de aves tinham sido mortas. O mesmo problema atinge as criações de suínos e peixes, às quais falta ração. A Associação Brasileira de Laticínios, por sua vez, estima em 300 milhões os litros de leite descartados. No Paraná, que é o estado com o maior número de rodovias bloqueadas na noite desta terça-feira (29), só o Sistema de Cooperativas estima RS 200 milhões diários de prejuízos. Há preocupação também com a colheita de café e laranja, e com a janela de oportunidade para o plantio de trigo – o Paraná é o maior produtor do país. Outros setores, como a indústria de automóveis, de remédios e o varejo também contabilizam perdas. Todo esse esfriamento na atividade econômica gera ainda um declínio na arrecadação tributária, estimada em R$ 3,86 bilhões até o momento.

As perdas econômicas até aqui já foram gravíssimas

Com tamanha desestabilização da produção e da logística no país, era de se esperar que os estoques nos supermercados começassem a baixar, o que já se verifica no Paraná e no Espírito Santo, por exemplo. Sabe-se bem que a situação não vai se normalizar do dia para a noite, pois será preciso reintegrar toda a rede logística do país e há muitos focos de resistência isolados, principalmente no Sul do país. Nesse cenário, as associações de supermercados reconhecem que não há motivo para pânico, mas o crucial é garantir o cumprimento dos acordos com os governos estaduais e federal, que já cederam até mais do que o movimento pleiteava de início, e que os caminhões que transportam alimentos não sejam impedidos de circular, a fim de não comprometer a segurança alimentar do país. As autoridades têm se empenhado em garantir isso e associações como a Abcam e a CNTA já anunciaram que os caminhoneiros, cientes da responsabilidade que carregam sobre suas rodas, querem voltar a rodar.

As perdas econômicas até aqui já foram gravíssimas, demorarão a se estabilizar e devem ter um impacto considerável no desempenho econômico do país. Qualquer entrave à normalização ou atropelo nas cidades só fará derrubar ainda mais uma economia que já patina para retomar o crescimento. Nenhum setor da vida nacional deseja que a isso venham a se somar prejuízos sociais ainda mais graves. Mais do que nunca, é hora de os caminhoneiros atenderem ao chamado à responsabilidade e trabalharem, juntamente a todos os brasileiros, pela normalização da vida econômica do país.

É verdade que as consequências políticas desse movimento ainda precisam ser contabilizadas, mas não se pode esquecer que estamos a poucos meses das eleições, o que é uma razão ainda mais forte para se evitar ações autoritárias, de todo modo inaceitáveis em um ambiente democrático. Sabemos, e já afirmamos neste espaço, que os brasileiros estão cansados dos escândalos de corrupção, da alta carga tributária que não se reverte em bons serviços públicos, de uma classe política que transformou o Congresso Nacional em um balcão de negócios e de um presidente da República que carrega pouquíssima autoridade moral. Mas são as eleições de outubro o momento adequado para repactuar o país – e um momento no qual esse pacto poderá ser feito com os menores custos econômicos e sociais para um Brasil já tão combalido.

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