Os curitibanos foram surpreendidos com o anúncio do reajuste das passagens de ônibus, feito na semana passada. Não pela época, pois a definição do preço sempre ocorre no fim de janeiro ou começo de fevereiro, mas pelo novo valor, de R$ 4,25 (aumento de R$ 0,55), que é 14,9% maior que a tarifa anterior, isso em um período no qual a inflação média deve ficar perto dos 6% – o reajuste de 2017, portanto, teria o maior “aumento real” desde 2011.
A população tem deixado de usar ônibus – entre 2011 e 2016, a queda no número de passageiros pagantes foi de 20%. No ano passado, foram 197 mil pessoas. E não é preciso observar muito para entender os motivos, que não se resumem à crise econômica e ao desemprego dela decorrente. A qualidade do serviço tem deixado a desejar: com a renovação da frota suspensa desde 2013, graças a uma liminar obtida pelas empresas que operam o sistema, mais veículos vencidos continuam a rodar – e a quebrar. Sem encontrar nos ônibus o conforto e a pontualidade desejados, o cidadão naturalmente migra para outras opções de transporte – com a nova tarifa, até corridas pelo aplicativo Uber passarão a ser mais vantajosas, dependendo do trajeto e do número de pessoas no grupo.
Os elementos que compõem o custo da operação quase nunca são explicados de maneira satisfatória à população
A queda no número de usuários pagantes tem um efeito drástico sobre a passagem, pois a tarifa técnica é calculada dividindo-se os custos da operação previstos no contrato pela estimativa de passageiros. Quanto menos pessoas usando ônibus, mais cara a passagem, o que desestimula ainda mais o uso do transporte coletivo, criando um círculo vicioso. Para piorar a situação, a Urbs tem errado constantemente suas projeções, superdimensionando a demanda – para 2016 a previsão era de 211,86 mil passageiros, 7,5% acima do realizado. Como resultado, as empresas recebem menos do que esperavam e a conta não fecha, a não ser que haja algum tipo de subsídio.
E, quanto a isso, o prefeito Rafael Greca foi enfático: “A política de subsidiar o transporte com dinheiro público municipal foi anestesia que não funcionou, e apenas adiou responsabilidades”, escreveu no Facebook. Nisso o prefeito tem razão: o ideal seria ver um sistema autossustentável, em que o dinheiro dos impostos do cidadão (tanto daquele que usa o transporte coletivo quanto daquele que se locomove pela cidade de outras formas) não precisasse ir para os cofres das empresas de transporte coletivo. A receita deveria vir da tarifa paga pelo passageiro e de itens como a veiculação de publicidade nos ônibus.
O grande problema, no imbróglio que envolve o preço das passagens de ônibus na capital paranaense, é a falta de transparência e de projeções mais realistas sobre a demanda. Falta diálogo, e os elementos que compõem o custo da operação quase nunca são explicados de maneira satisfatória à população, sem falar da controvérsia envolvendo os parâmetros de desgaste da frota e uso de combustível, que teriam sido desenhados levando-se em conta tecnologias obsoletas, mais caras que as atuais. Essa é uma briga que nenhum prefeito até agora se dispôs a comprar, mas faria um grande bem à sociedade curitibana conhecer em detalhes pelo que está pagando quando deixa os seus R$ 4,25 na catraca dos ônibus e estações-tubo.
Assim como no caso dos pedágios, o cidadão está disposto a pagar por um serviço desde que a contrapartida seja compatível, e sabe que “não existe almoço grátis”. Há custos para manter a frota, pagar combustível, peças e funcionários; também é justo que o empreendedor tenha sua margem de lucro. Se, ao cobrir esses custos – e não outros que porventura estejam embutidos no cálculo da tarifa –, o curitibano receber em troca conforto, pontualidade, boa frequência e inovações como a integração temporal, a reversão da queda no número de passageiros será uma possibilidade real.
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