As esperanças de que o presidente Obama faça um grande governo são imensas, sobretudo em razão da sua origem e por ser o primeiro negro a governar os Estados Unidos. O peso do fardo de Obama foi substancialmente aumentado pela crise econômica, que é a maior desde a depressão de 1930, e pelas guerras no Afeganistão e no Iraque. Além desses problemas, que já são suficientemente graves, ele herdará os déficits gêmeos: o déficit fiscal, que pode chegar a 8% do Produto Interno Bruto norte-americano em 2009, e o déficit comercial. Para complicar ainda mais o quadro de dificuldades, Obama toma posse no auge do conflito entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza.

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Os grandes objetivos do novo governo podem ser expressos em poucas palavras: crescimento econômico e expansão da paz. Fáceis de definir, mas difíceis de conseguir, esses objetivos tomarão o tempo, a energia e a inteligência de toda a equipe de Obama, composta por vários homens do governo Clinton, portanto, experientes em lidar com os mais complexos problemas de governo. A equipe econômica, em particular, é toda ela formada por técnicos que trabalharam nos oito anos de Bill Clinton, cujo pensamento e forma de atuação são conhecidos do público.

A questão que se coloca para Obama é que as expectativas depositadas sobre seu governo foram ampliadas de forma um tanto exagerada, o que pode gerar algumas frustrações e provocar redução da sua popularidade. Na questão econômica, os problemas são de difícil solução. A população com alto grau de endividamento, a enorme inadimplência dos financiamentos imobiliários, a crise bancária e a redução do nível de atividade econômica são problemas que, no conjunto, exigirão que o governo faça uso de todo arsenal possível e, mesmo assim, a recuperação pode ser lenta. Inicialmente, o pacote de 750 bilhões de dólares, para salvamento do sistema financeiro, não é capaz de resolver o problema da recessão. Por isso, vem sendo anunciado um segundo pacote de 825 bilhões de dólares, em forma de redução de impostos e aumento de gasto público, para tentar reativar o sistema produtivo.

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Há um aspecto que os economistas não têm condições de prever com alto grau de acerto: ainda que os dois pacotes se mostrem eficientes, não se sabe como serão os anos seguintes, considerando que as medidas deixarão um rombo nas contas públicas. Obama pode se ver obrigado a terminar seu mandato com significativo aumento da dívida do governo e aumento de impostos. O fato é que ele não dispõe de alternativa indolor e talvez seja necessário dizer isso claramente ao mundo e ao povo norte-americano. Outra frente na qual o governo terá de trabalhar, na qual tem amplo apoio popular, envolve a revisão das leis de regulação do sistema financeiro e a melhoria dos instrumentos de fiscalização bancária.

Além de todos os obstáculos conhecidos, Obama enfrentará uma séria restrição: o tempo. O governo não dispõe de muito tempo para preparar as estratégias, mobilizar os meios (materiais, humanos e financeiros) e executar as medidas. Aqui entra um desafio de natureza política e gerencial. Obama terá que ser quase um super-homem para, em pouco tempo, mostrar que as esperanças sobre seu governo não eram em vão. O desafio é gigantesco.