Já no artigo primeiro do seu estatuto, o Partido dos Trabalhadores (PT) é claro quanto aos seus propósitos: “lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático”. Mas, num exemplo clássico do proverbial “o papel aceita tudo”, em seus 13 anos e meio no Planalto, Lula e Dilma rasgaram, uma a uma, todas as suas propostas imaginariamente positivas.
E, nestes tempos em que se revela o escândalo da JBS com todos os seus horrores, percebe-se que o último dos objetivos petistas – “construir o socialismo democrático”, por mais contraditório que isso soe – até tentou ser levado a cabo, mas por meio de um tipo muito particular de capitalismo, aquele patrocinado pelo Estado.
O conluio entre governo e grandes empreiteiras ajudou regimes estrangeiros amigos do petismo
Já se sabia disso desde que se escancarou o concubinato do PT com as grandes empreiteiras, na qual vigorava uma regra simples: quanto mais “obras”, mas propinas. Negócio vantajoso também para os demais partidos que participavam diretamente da base aliada, tais como o PP e o PMDB. Mas é com o descaramento dos irmãos Wesley e Joesley que o Brasil começa a prestar mais atenção em como o farto dinheiro do BNDES – cujos cofres são abastecidos com dinheiro público – foi usado de forma espúria tanto dentro quanto fora do país.
Internamente, o governo usou o BNDES para sua política de “campeões nacionais”, entre os quais estava a JBS, que acabou se tornando o maior grupo frigorífico do mundo – à custa da destruição dos pequenos estabelecimentos, comprados pelo gigante ou obrigados a encerrar suas atividades por não suportar a concorrência predatória do gigante amigo do PT. Tudo ao contrário das promessas de “eliminar a exploração, a opressão, a desigualdade” inscritas no estatuto do partido.
As distorções graves e ferozmente anticompetitivas com que o lulopetismo privilegiou a JBS derrubaram porteiras, invadiram sítios e fazendas e afetaram também os pecuaristas, grandes e pequenos criadores de gado, vítimas do que pode ser definido como praticamente um monopsônio, distorção de mercado em que só existe um grande comprador, com o poder de definir o preço que quer pagar. E ao pecuarista não resta alternativa a não ser aceitar. Nada disso combina com a pregação de “pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais [e] econômicas” prometidas no estatuto petista.
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A atuação imposta ao BNDES durante o período Lula/Dilma contraria também os princípios fundadores da instituição – um banco que deveria estar voltado ao desenvolvimento nacional. Pois, no campo externo, o conluio entre governo e grandes empreiteiras serviu mesmo foi para ajudar regimes estrangeiros: uns mais, outros menos autoritários, mas todos amigos do petismo. Enquanto o Brasil empobrecia, a economia se desorganizava e o desemprego crescia, US$ 13,6 bilhões eram destinados para financiar projetos das grandes empreiteiras em nações cujos governos mantinham similaridades ideológicas com o lulopetismo. Venezuela, Angola, Equador, República Dominicana e Cuba são alguns destes países – coincidentemente, todos eles também às voltas com a corrupção multinacional que o Brasil exportou.
Capitalismo de compadrio dentro do país e uso ideológico além das fronteiras nacionais são tudo que não cabe a um banco de fomento, uma verdade evidente que independe das preferências político-partidárias de cada um. Maria Silvia Bastos Marques começou a devolver o BNDES a seu rumo certo, e Paulo Rabello de Castro deve continuar o trabalho, para que distorções graves como as ocorridas sob o lulopetismo não voltem mais a ocorrer.
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