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Editorial

O Brasil grego

 | Dimitar Dilkoff/AFP
(Foto: Dimitar Dilkoff/AFP)

Se o Brasil quisesse copiar a Grécia, aquele país tem realizações maravilhosas que poderiam ser imitadas: os ensinamentos filosóficos, o valor da democracia, os fundamentos da liberdade, as base da moral, entre muitas outras. Os séculos seguirão passando e o mundo pode mudar, mas a humanidade continuará bebendo nas obras de Sócrates, Platão, Aristóteles e dezenas de filósofos e pensadores geniais que legaram ao mundo ensinamentos que se perpetuarão e contribuirão para o progresso material e a evolução intelectual e moral do ser humano. Mas o Brasil tem se revelado um péssimo aluno e, quando resolve copiar algum país, escolhe suas mazelas e seus defeitos.

Nos últimos anos, a sociedade grega foi palco de greves, revoltas, conflitos sociais e instabilidade política, em boa parte como decorrência de medidas duras que o governo tentou aprovar para tirar o país do fundo do poço econômico. A Grécia trilhou caminhos equivocados e cometeu repetidamente erros que, como consequência, produziram empobrecimento e retrocesso social. Alguns dos graves equívocos gregos foram desordem nas contas públicas, déficits fiscais crônicos, bagunça orçamentária, gastos irresponsáveis, desequilíbrio nas contas externas, endividamento excessivo do governo, aposentadorias incompatíveis com a economia nacional, benefícios a funcionários públicos acima dos trabalhadores privados e outros atos nocivos à nação.

A Grécia não tinha um volume de produção nacional para sustentar a farra que governo e sociedade construíram

Mesmo quando a crise já estava instalada e a trajetória declinante do país estava clara, o governo grego – aí incluído o parlamento – aprovou gastos públicos sem fonte de receita, implantou um conjunto de benefícios sociais que o Tesouro Nacional não podia pagar e descuidou da política cambial necessária para equilibrar as contas do país com o resto do mundo. O resultado foi que o desastre econômico evoluiu como uma ferida que se expande e mata o paciente. A tragédia econômica da Grécia não foi uma erupção repentina, mas sim a formação de uma tempestade em um longo processo de erros repetidos. A lição mais básica que a Grécia deixou foi que não existe final feliz quando o país agride os princípios mais elementares da gestão macroeconômica, e que demagogia política e racionalidade econômica não convivem bem: ou se tem uma ou outra. Se a demagogia ganha a batalha e o governo começa a dar o que o país não produz, o resultado é tragédia financeira e empobrecimento social.

De tanto errar, a Grécia teve de anunciar cortes em benefícios sociais, diminuição das aposentadorias, redução de gastos públicos, elevação de impostos, enquadramento das contas governamentais e, principalmente, dizer à população que aquela sociedade não tinha um volume de produção nacional para sustentar a farra que governo e sociedade construíram ao longo de muitos anos. A população, como todo movimento de massa, foi às ruas em atos de explosão e perturbação da ordem pública, independentemente da racionalidade que a grave crise exigia. Por fim, a Grécia – que houvera aderido à União Europeia e adotado o euro como moeda nacional – teve de pôr-se de joelhos diante dos bancos privados e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para tentar salvar o país de uma catástrofe ainda maior. O FMI comandou operações de empréstimos à Grécia mediante um doloroso programa de austeridade, ajustes e mudanças na política econômica.

Em 2010 e anos seguintes, analistas internacionais escreveram que um dos problemas da Grécia foi ter tido uma série de governos incompetentes e irresponsáveis, os quais plantaram a grave crise que o país estava colhendo. Se for adicionado o ingrediente da corrupção, a tragédia grega e a culminância da crise que abalou e castigou aquele país podem se repetir de forma muito parecida no Brasil, com a diferença de que a população grega é igual à população do Paraná (menos de 6% da população do Brasil) e a renda por habitante lá é mais que o dobro da brasileira. A esperança é que o próximo presidente da República e os governadores estaduais eleitos no próximo mês de outubro não sejam réplicas perfeitas dos maus governantes e suas más políticas que têm caracterizado a vida pública brasileira.

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