O Fórum Econômico Mundial acabou de divulgar os resultados da edição de 2018 do seu Ranking de Competitividade Global. E, mais uma vez, os números mostram o tamanho do problema que o Brasil e seus líderes têm de resolver se quiserem um país capaz de promover prosperidade a seus cidadãos. Perdemos três posições em comparação com 2017 e passamos para a “metade de baixo” da tabela, ficando na 72.ª posição entre os 140 países pesquisados. O Brasil é o pior dos Brics e apenas o oitavo melhor latino-americano no ranking, atrás de Chile, México, Uruguai, Costa Rica, Colômbia e Peru.
O pilar onde o Brasil tem melhor desempenho, um 10.º lugar, é o de “tamanho do mercado” – um indicador que combina o PIB, o oitavo do mundo, com a porcentagem das importações dentro do PIB, cujos 10,9% deixam o Brasil numa medíocre penúltima posição entre todos os países avaliados. Cada um dos 12 pilares é desmembrado em vários outros itens que mostram o estado lastimável em que se encontram nossa economia e nossa sociedade.
O excesso de burocracia e regulamentação mata a liberdade econômica e dificulta ao máximo a geração de emprego e renda
O país ficou em último lugar no sub-item “Peso da regulação governamental”, o que por si só já mostra como, no Brasil, o Estado atrapalha a atividade econômica com suas pretensões de regular e taxar qualquer coisa que se mova ou respire – e, ainda por cima, o faz da pior forma possível, como comprovado pela 132.ª posição quando se analisa a “distorção produzida na competição por impostos e subsídios”. O Brasil falha em garantir direitos básicos a indivíduos e negócios, a começar pelo próprio direito à vida. Os 60 mil homicídios anuais deixaram o país na 133.ª posição, com um 124.º lugar no quesito “crime organizado” e a 111.ª posição em “confiabilidade dos serviços da polícia”.
E, quando o brasileiro sobrevive a essa guerra urbana, geralmente não está suficientemente qualificado para ajudar o país a ser mais competitivo. No relatório do Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o 124.º lugar em “habilidades dos graduados” e 127.º em “facilidade de encontrar funcionários qualificados”. E antes a dificuldade do empresário fosse apenas esta: o país tem uma antepenúltima colocação em “facilidade para contratar e demitir”, isso apesar da recente reforma trabalhista, que, segundo o relatório, ainda não mostrou seus resultados. A carga tributária sobre a folha de pagamento e as restrições nas políticas salariais internas das empresas são outros fatores em que o Brasil ocupa as últimas posições do ranking.
Leia também: Escravos do paternalismo e da burocracia (editorial de 2 de fevereiro de 2018)
Leia também: Competitividade em queda livre (editorial de 6 de junho de 2017)
E, quando o que foi produzido não consegue ser escoado de forma eficiente, o país também perde competitividade. Estamos mal avaliados quando o assunto é a qualidade das estradas (112.º lugar), bem como a eficiência dos portos (105.º) e da rede ferroviária (97%). Nossa rede elétrica, ainda que alcance 99,6% da população, ainda sofre com falhas e perdas na transmissão e distribuição.
Nem tudo é tragédia no relatório. O Brasil figura entre os 20 melhores países em alguns poucos quesitos, como a qualidade das instituições de pesquisa, a conectividade entre aeroportos e o marco regulatório para casos de insolvência. Há, inclusive, um sub-item no qual o país lidera o ranking, a transparência orçamentária. No entanto, isso ainda é muito pouco para tirar o Brasil do atoleiro da competitividade.
Qualquer candidato a um cargo eletivo – e, além da Presidência da República, vários estados ainda terão um segundo turno no próximo dia 28 – poderia olhar para o relatório, para os vários pontos fracos do Brasil, e escolher ali uma série de prioridades a atacar para tornar o país, um estado ou um município mais competitivo naquilo que estiver a seu alcance. A violência urbana extrema, o atraso do nosso sistema educacional/vocacional/técnico, a infraestrutura em frangalhos, o excesso de burocracia e regulamentação que mata a liberdade econômica e dificulta ao máximo a geração de emprego e renda: tudo isso serve como um freio para o país. O eleitor fará bem em buscar as propostas que os candidatos ao Planalto e aos governos estaduais têm nessas áreas, porque o que está em jogo não são meros números em um ranking, mas o que eles refletem: a garantia de que os brasileiros possam usar ao máximo o seu potencial na atividade que tiverem escolhido exercer.