Àquela famosa frase segundo a qual “o Brasil não é para amadores” seria possível acrescentar outra: o Brasil não é para distraídos. Quem tira os olhos do noticiário por algumas horas, ou alguns dias, não percebe a balança virando contra ou a favor do governo. Foi assim, por exemplo, no dia que começou com Lula empossado na Casa Civil e terminou com o ex-presidente afastado do posto por uma liminar. A semana passada viu movimento semelhante. Quando o PMDB, na terça-feira, sacramentou sua saída do governo, o afastamento da presidente Dilma Rousseff parecia dado como favas contadas. Mas o fim da semana registrou vitórias para o governo federal.

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O Planalto já deu sinais de que vai jogar pesado, transformando a República num balcão de negócios, com ofertas de cargos e pagamento de emendas individuais aos deputados que se mantiverem na base aliada. Ao anunciar contingenciamento de R$ 21,2 bilhões em recursos dos ministérios da Educação, Saúde, Defesa e Transportes, Dilma manteve no orçamento a autorização para liberar R$ 6,6 bilhões em despesas de interesse individual de parlamentares. A debandada do PMDB, que ocupa seis ministérios e 600 outros cargos, ofereceu a oportunidade para o governo realizar sua espúria troca de cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões por apoio contra o impeachment – apoio esse que pode vir com um voto em plenário ou mesmo com uma abstenção. E há diversos partidos interessados em emprestar sua lealdade, dando ao governo a esperança de conseguir 171 deputados: apenas a adesão de PP e PR, por exemplo, daria a Dilma quase 90 parlamentares.

Se as notícias vivem um movimento pendular, o que precisa estar constante neste momento é a mobilização popular

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Na guerra de narrativas, o governo ajustou seu discurso. Deixou de lado a tese de que “impeachment é golpe”, desmoralizada por qualquer breve consulta à legislação, para afirmar que “impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”. É o que se viu na quarta-feira, quando Dilma gritou a nova palavra de ordem à exaustão em um evento oficial que virou palanque do PT. A tese ganhou o endosso do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que afirmou que ela tem “toda a razão” de classificar como “golpe” o processo m trâmite na Câmara caso não fique configurado crime de responsabilidade. Ora, é a mais cristalina verdade que impeachment sem crime de responsabilidade é desrespeito à lei. Mas o que Dilma deixa implícito em seu discurso é que ela não cometeu crime de responsabilidade, o que a realidade desmente.

Por fim, veio do STF outra vitória parcial para o governo e o PT, quando o plenário do Supremo manteve a liminar de Teori Zavascki que retirava temporariamente do juiz Sergio Moro os inquéritos envolvendo o ex-presidente Lula e que incluíssem os grampos cujo conteúdo teve a divulgação autorizada por Moro. A decisão, em si, é meramente processual e não tem a importância que muitos vêm lhe atribuindo – o julgamento realmente importante a esse respeito deve ocorrer nesta semana. Mas preocupa o tom com que muitos ministros manifestaram críticas à condução da Lava Jato, críticas essas que várias vezes extrapolaram o âmbito do que estava sendo julgado naquela ocasião. Elas podem dar o tom para futuras decisões que têm o potencial de enfraquecer o louvável trabalho da força-tarefa e de Moro.

Mas, assim como a gangorra virou rapidamente em favor de Dilma e do PT, basta um leve movimento para fazê-la mudar de lado novamente. Na sexta-feira, a Carbono 14, nova fase da Lava Jato, se aproximou de um dos esqueletos no armário do petismo, a morte de Celso Daniel, e de quebra pode ajudar a esclarecer a ligação entre o governo federal e a blogosfera chapa-branca.

Se as notícias vivem um movimento pendular, o que precisa estar constante neste momento é a mobilização popular. Com a possível votação do impeachment se aproximando na Câmara, a acomodação do povo, seja pelo desânimo com acontecimentos favoráveis ao petismo, seja pelo natural cansaço, é o sinal que muitos deputados esperam para se abraçar ao governo em troca de algum favor. Cobrança, vigilância e manifestações são os ingredientes para que a esperança do povo não acabe frustrada.

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