A centro-direita voltará ao poder no Chile, depois da vitória de Sebastian Piñera no segundo turno da eleição presidencial, realizada no último domingo. O empresário, que já havia governado o Chile entre 2010 e 2014, venceu o senador de esquerda Alejandro Guillier, que contava com o apoio da atual presidente, Michelle Bachelet. Em uma eleição em que metade do eleitorado se absteve – no Chile, o voto é facultativo –, Piñera obteve nove pontos porcentuais de vantagem sobre seu adversário, considerando-se apenas os votos válidos.
No primeiro turno, o eleitorado havia rejeitado os candidatos mais extremistas em ambas as pontas do espectro político, mas também mostrou que desejava candidatos ideologicamente posicionados – tanto à direita, caso de Piñera (apesar de ele ter feito uma guinada mais ao centro, e de sua chapa incluir um partido de tom mais libertário que defende plataformas mal vistas por eleitores conservadores), quanto de esquerda, caso de Guillier, ligado ao partido mais à esquerda da coalizão “A força da maioria”. Basta perceber que o centro mais “puro”, representado por Carolina Goic, ficou abaixo dos 6%, tendo até menos votos que o direitista José Antonio Kast (quase 8%) e a extrema-esquerda de Beatriz Sánchez (que teve preocupantes 20,3%, quase tomando o lugar de Guillier no segundo turno).
O segundo turno foi um choque de visões antagônicas sobre o modelo de Estado desejado para o Chile
Durante a campanha do segundo turno, como era de se esperar, os candidatos contaram com o apoio dos respectivos extremos: Piñera ganhou o endosso de Kast, enquanto os líderes da esquerda declararam voto em Guillier – a Frente Ampla, coligação de Sánchez, não aderiu a nenhuma candidatura, limitando-se a condenar Piñera, mas vários membros, incluindo a própria ex-candidata, disseram publicamente que votariam em Guillier. A centrista Carolina Goic também declarou apoio ao candidato de esquerda.
Com esse perfil, a disputa do segundo turno foi efetivamente um choque de visões antagônicas sobre o modelo de Estado desejado para o Chile. Políticas de cunho liberal colocaram o país na vanguarda econômica na América do Sul, mantendo a estabilidade enquanto os vizinhos se debatiam no combate à hiperinflação ou à recessão, e trabalhando por uma inserção internacional, por meio do comércio exterior, escapando da armadilha em que o Mercosul foi transformado – mesmo com a desaceleração recente da atividade econômica, o Chile segue liderando a América do Sul nos rankings de liberdade econômica e facilidade para negócios. Bachelet investiu na gratuidade dos sistemas de saúde e educação e realizou uma reforma que elevou a carga tributária. O sistema de previdência, atualmente privado e funcionando pelo regime de capitalização, foi tema de campanha, com Guillier propondo algum grau de estatização.
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Como a coligação de Piñera não conseguiu maioria absoluta em nenhuma das casas legislativas, apesar de ter ficado muito perto disso, o novo presidente precisará fazer algum tipo de aceno ao centro para conseguir os poucos votos que lhe faltam para aprovar as medidas de seu interesse. Ainda assim, a vitória da centro-direita não deixa de ser um alento e mais uma demonstração de que, apesar de ainda sobreviver na falida Venezuela e na Bolívia, onde Evo Morales apelou a um truque judicial para concorrer a um novo mandato, o populismo de esquerda que tanto mal causou ao continente está aos poucos sendo derrotado na América do Sul.
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