Não houve surpresa na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5%. É a terceira reunião seguida em que o comitê mantém os juros no mesmo patamar, que é o mais baixo da série histórica. A decisão era esperada pelo mercado, ainda que o próprio Copom, em seu comunicado, tenha afirmado que “a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”.
Em primeiro lugar, havia motivos suficientes para que não houvesse elevação na Selic. A inflação havia dado um salto em junho, mas o Copom atribuiu o número ao efeito da greve dos caminhoneiros ocorrida em maio (apenas um entre as várias consequências maléficas da paralisação, diga-se de passagem) e considerou que se tratou de algo esporádico, com o IPCA voltando ao comportamento anterior. Além disso, a própria lentidão na retomada da atividade econômica já desaconselhava fortemente uma elevação nos juros, que atrapalharia sobremaneira a produção e a geração de empregos, ainda cambaleante.
Sem as reformas estruturais, não teremos como ver novas reduções consistentes na Selic
Outro fator que poderia forçar os juros para cima, o cenário internacional, apresentou “apresentou certa acomodação no período recente”, de acordo com o comunicado. Uma das maiores preocupações era com a possível elevação dos juros nos Estados Unidos. No entanto, na mesma quarta-feira em que o Copom encerrava sua reunião, sua contraparte norte-americana, o Fed resolveu manter sua taxa básica – as duas decisões saíram com apenas horas de diferença, com os americanos vindo antes. Uma elevação seria suficiente para que houvesse uma saída de capitais das economias emergentes em direção à segurança oferecida pelos Estados Unidos.
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Mas, se não há razões para elevar a Selic, as atuais circunstâncias tampouco favorecem uma redução. A recente alta na inflação pode ter sido apenas um sobressalto resultante de um evento extraordinário, mas as projeções para o IPCA em 2018 e 2019 mostram um índice bastante próximo ao centro da meta do Banco Central – os números do comunicado mostram que há poucas chances de repetirmos o IPCA de 2017, que ficou abaixo até mesmo do piso da meta. Além disso, os Estados Unidos podem não ter reduzido seus juros agora, mas a chance de fazê-lo ainda este ano permanecem altas, isso sem falar das consequências da guerra comercial entre as grandes potências. Por isso o comunicado diz que, apesar da “acomodação” recente, o cenário externo “segue mais desafiador”.
Por fim, o Copom reafirmou o que vem dizendo desde o ano passado: sem as reformas estruturais, não teremos como ver novas reduções consistentes na Selic. Com o início da campanha eleitoral às portas, fica difícil vislumbrar qualquer possibilidade de aprovar ainda neste ano uma reforma da Previdência, ou tributária, ou que reduza fortemente o gasto público. E, a depender do que o eleitor escolher para o Brasil nos próximos quatro anos, até o pouco que já foi conquistado pode ser perdido.
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