Duas informações divulgadas nas últimas semanas sugerem que a recuperação econômica pode se acelerar e fazer 2018 terminar com bom desempenho, após três anos marcados por uma pesada recessão. Trata-se do aumento do consumo das famílias e da demanda internacional por produtos brasileiros. O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país durante um ano e teve aumento de 1% em 2017, após ter ficado estagnado em 2014 e sofrido duas quedas de 3,5% em 2015 e 2016. Com isso, a queda acumulada do PIB nos três anos referidos ficou na faixa dos 7% e configurou grave recessão, principalmente porque a população continuou crescendo em torno de 1,6 milhão por ano.
Após retomar tímido crescimento em 2017, as estimativas para 2018, após encerrado o primeiro trimestre, são de que a recuperação de fato começou e o crescimento deve situar-se em 3% ou 3,5%. O sistema produtivo depende de diversos fatores para colocar a máquina de produzir em ação, mas a principal variável é a existência de demanda para os bens e serviços que vierem a ser produzidos. O conceito de “demanda agregada” é a soma do consumo das famílias, consumo do governo, investimento das empresas, investimento do governo e demanda externa (exportações). As duas informações já citadas – aumento do consumo das famílias e demanda externa – são bons estimuladores da reação do setor produtivo e um alento para a tomada de decisões dos empresários e investidores.
Se o crescimento vier, virá movido pelo setor privado, já que do governo não se pode esperar grande contribuição
Quanto existe demanda por bens e serviços, a pressão sobre a oferta induz as empresas a aumentarem a produção, o que é bom para elevar o PIB e para a recuperação do nível de emprego. Entretanto, para que a recuperação econômica se consolide e siga pelos anos seguintes de maneira sólida, é necessário que a demanda agregada seja expandida em seu todo. Isto é, também os investimentos precisam ser retomados e a demanda por bens de capital precisa crescer. As empresas investirão naturalmente quando ocorrer a percepção de que a demanda seguirá crescendo neste ano e nos anos seguintes. Mas vale lembrar que uma parte do sistema produtivo é composta de fábricas de bens de capital, especialmente máquinas e equipamentos industriais e, para que a recuperação econômica seja robusta e tenha forte influência na geração de empregos, também a demanda de investimento pelo governo e pelas empresas precisa crescer. E nesse ponto há mais dúvidas do que certezas.
Quanto ao governo, em todos os níveis da federação, não dá para esperar retomada de seus investimentos, sobretudo os de infraestrutura física, pois as finanças públicas estão eivadas de déficits crônicos e dívidas elevadas. Nunca é demais lembrar que a dívida pública bruta consolidada está rondando os 80% do PIB, cifra alta e perigosa, e nada indica que será contida no curto prazo. Não tendo capacidade de investir com recursos do orçamento próprio e já estando com dívidas elevadas, o setor governamental deve ser pressionado para privatizar, fazer concessões e libertar os investidores das amarras legais em relação aos investimentos antes estatizados. Nada é mais estúpido, do ponto de vista dos interesses da sociedade, que um governo que não investe e também não privatiza nem faz concessões de atividades em que o país está carente de investimentos.
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Se a demanda dá indicações de melhora pelo lado da demanda das famílias e da demanda externa, os efeitos são positivos, mas estão longe de serem suficientes para lançar o país rumo ao crescimento sustentado nos anos seguintes, pois, para isso, é preciso haver recuperação da demanda agregada, o que inclui elevação dos investimentos do governo e das empresas. No quadro atual, se o crescimento vier, virá movido pelo setor privado, já que do governo não se pode esperar grande contribuição.
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