| Foto: Paulo Pinto/Agencia PT

De todos os depoimentos e delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht, os de Emílio e Marcelo são os mais significativos – e não teria como deixar de ser assim, dada sua posição de comando na empresa, que por sua vez lhes garantia a interlocução com os principais nomes da República. E as declarações de ambos, ainda que aparentemente façam entender que o caixa 2 e os propinodutos sejam práticas históricas no país, independentemente do governo de plantão, também mostram que “não é tudo a mesma coisa”: há variações significativas em intensidade e finalidade.

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“Sabia que existia uso de recursos não contabilizados. Sempre foi modelo reinante no país e que veio até recentemente. O que houve impedimento a partir de 2014. Até então, sempre existiu. Desde minha época, da época do meu pai e também de Marcelo, sem dúvida nenhuma”, disse Emílio em depoimento ao juiz Sergio Moro – 2014 é o ano em que começou a Operação Lava Jato. Se sempre houve corrupção, sempre houve caixa 2, sempre houve propinas, seria possível igualar todos os políticos e seus partidos como membros da mesma engrenagem, sucedendo-se ao longo das décadas na manutenção da pilantragem?

A voracidade do PT por recursos da Odebrecht chamou a atenção do patriarca Emílio

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O próprio Emílio responde, desta vez em um relato escrito à Procuradoria-Geral da República: as coisas ficaram um pouco diferentes com a entrada em cena de Lula e do PT. O partido e a empreiteira mantinham “hierarquias paralelas” nas negociações: Emílio conversava com Lula; Marcelo, com Dilma Rousseff, e assim sucessivamente, incluindo ministros como Guido Mantega e Antonio Palocci e, mais abaixo, os marqueteiros do partido. A voracidade do partido por recursos da empreiteira chamou a atenção de Emílio. “O pessoal dele [Lula] estava com a goela muito aberta. Estavam passando de jacaré para crocodilo”, narrou o patriarca da Odebrecht.

As negociatas com a Odebrecht, hoje sabemos, eram apenas uma das cartas que o partido guardava na manga. O projeto de poder petista – sim, porque a corrupção levada a cabo pelo partido ia muito além do favorecimento pessoal ou do enriquecimento de alguns chefões: tratava-se da perpetuação da legenda no comando da nação – estendeu tentáculos por todo o Estado brasileiro. Tratava-se de colocar as instituições a serviço do partido, por todo o tempo que fosse necessário. Para isso, valia tudo, inclusive fraudar a própria representação democrática com a compra de apoio parlamentar no início do governo Lula, com o mensalão. Durante o emblemático julgamento no Supremo Tribunal Federal, vários ministros ressaltaram o aspecto golpista do esquema cujos integrantes foram condenados naquela ocasião.

Fechada a torneira do mensalão, a Petrobras foi a bola da vez. Empresa gigantesca, entre as maiores do mundo, era um butim grande demais para passar incólume. O petrolão foi a continuação do mensalão, com seus desvios bilionários para bancar a fome própria e a de outros partidos da base aliada, especialmente PMDB e PP. O roubo cometido em prol do partido rendeu aos mensaleiros condenados e a outros já condenados dentro da Lava Jato a aclamação de “guerreiros do povo brasileiro”.

O PT não inventou a corrupção, mas a elevou ao estado da arte. Por mais que nenhum dos crimes de caixa 2 e corrupção narrados pelos executivos da Odebrecht deva ficar sem investigação, igualar todos os delatados e investigados é um desserviço. Pensar assim só serve aos interesses de quem não quer ver escancarado seu papel na depredação do Estado brasileiro, colocado a serviço de um partido político que buscava meios escusos de se perpetuar no poder por meio do aparelhamento e, com a cooperação de empresários inescrupulosos, do abastecimento financeiro ilegal.

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