Em maio de 2014, o barril de petróleo custava cerca de US$ 110, não muito longe dos maiores valores atingidos depois da crise internacional iniciada em 2007/2008. Menos de um ano depois, o preço do barril flerta com os US$ 50, preço que, nos últimos anos, só foi tão baixo em meados de 2005 e no auge da crise. Tudo isso com o beneplácito da entidade que congrega os países que produzem e exportam petróleo, a Opep. O aparente paradoxo de um cartel que aceita – e, de certa forma, até incentiva – tamanha queda nos preços do produto que é sua fonte de renda foi explicado pelo economista Luciano Nakabashi em artigo publicado na Gazeta do Povo em 28 de dezembro: não apenas a demanda caiu como consequência da desaceleração da economia mundial, mas também houve a necessidade de tornar o petróleo competitivo em relação a outras fontes de energia promissoras, como o gás de xisto.

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A queda no preço também tem impacto sobre a Petrobras. Um impacto que, à primeira vista, é positivo no curto prazo. Afinal, parte do prejuízo da empresa, como lembramos em outras ocasiões, vinha da necessidade que a estatal tinha de comprar petróleo a preços de mercado no exterior e ter de revendê-lo no Brasil a valores menores, graças a decisões populistas do governo federal, que precisava conter a escalada da inflação. Com a queda drástica nos valores cobrados internacionalmente, aliada a eventuais reajustes internos, a operação poderia voltar a ser lucrativa, aliviando o caixa da Petrobras.

No entanto, os preços mais baixos do barril de petróleo, se mantidos, colocam enormes desafios à Petrobras no médio e longo prazo, principalmente porque acabará desvalorizando o pré-sal. Aquela que seria a grande esperança do país (seja como passaporte para a autossuficiência, seja como fonte de recursos para a educação, ou qualquer outra destinação que já se pretendeu dar a essas reservas) exige investimentos de centenas de bilhões de dólares nos próximos anos – e, graças ao sistema de partilha, escolha do governo Lula, boa parte desse dinheiro terá de sair do cofre da própria Petrobras, que, tempos atrás, foi apontada como a empresa não financeira mais endividada do mundo. O grande dilema é: comprometer a exploração do pré-sal ou insistir no planejamento atual, arriscando a nota de crédito da estatal?

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É exatamente o tipo de pergunta que os executivos não gostariam de ter de fazer neste momento, quando a credibilidade da empresa já está seriamente comprometida pelas descobertas da Operação Lava Jato, às quais se somam denúncias como a de gastos publicitários milionários feitos sem critério algum – em alguns casos, única e exclusivamente por ordem do ex-presidente Lula, como denunciou o jornal Valor Econômico na última segunda-feira no caso das escolas de samba do carnaval carioca. Além disso, até agora o balanço do terceiro trimestre ainda não foi publicado, um atraso que prejudica ainda mais a imagem da empresa.

Enquanto isso, os altos escalões do governo federal continuam a fingir que o mar de lama que assola a empresa não passa de "marolinha", para usar o termo com que Lula se referiu aos efeitos que a crise mundial teria no Brasil, e Graça Foster é mantida à frente da estatal mesmo sem ter a menor condição de permanecer no posto, como também já dissemos em outras oportunidades. Acionistas minoritários acumulam prejuízos, e a corrupção e a incompetência já levaram investidores norte-americanos a buscar reparação na Justiça. Em outras palavras, a própria cúpula da Petrobras criou todas as circunstâncias que a impedem de se dedicar exclusivamente a pensar em como a empresa deve lidar com as oscilações do petróleo no mercado internacional. Assim, corre o risco de acabar sendo simplesmente carregada pelos acontecimentos – o que está longe de ser uma estratégia aceitável para qualquer empresa.

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