Em fevereiro deste ano, o ex-presidente Lula fez mais um de seus exaltados discursos em um ato “em defesa da Petrobras” – na verdade, em defesa daqueles que haviam sido flagrados pilhando a estatal, de acordo com as investigações da Operação Lava Jato. Na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), políticos, artistas, advogados, representantes dos “movimentos sociais” e militantes ouviram Lula criticar a imprensa e a oposição, como de hábito, e soltar uma frase emblemática: “Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas”, em uma referência a João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também presente ao evento e que, antes de Lula falar, havia pedido ao ex-presidente que retomasse o protagonismo na cena pública.
Premiar Stédile é incentivar tudo o que ele representa: a desordem que só interessa a alguns e prejudica um país inteiro
Não demorou muito para Stédile atender ao pedido de Lula. No início de março, o MST iniciou uma onda de invasões a fazendas, agências bancárias e órgãos públicos, com bloqueios de estradas e destruição de propriedades e de laboratórios, interrupção forçada de reuniões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e outros atos de claro desrespeito aos direitos mais básicos do cidadão, como o de propriedade e o de ir e vir. O governo, que poucos dias antes havia colocado a Força Nacional de Segurança para reprimir uma greve de caminhoneiros, pouco ou nada fez para impedir os sem-terra – pelo contrário: Dilma Rousseff chegou a convidar militantes do MST para prestigiar a cerimônia de sanção da lei do feminicídio, em 9 de março. No dia seguinte, o ministro da Previdência subiu em carro de som para “dialogar” com o “exército de Stédile”. Nada diferente do histórico de relações entre o governo petista e o MST, como a Gazeta do Povo já apontou em ocasiões anteriores.
No último dia 21 de abril, a cidade de Ouro Preto recebeu, como é de praxe, a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, principal condecoração do estado de Minas Gerais. No total, 141 pessoas receberam a comenda, incluindo o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski; o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams; o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Coêlho... e o “general” João Pedro Stédile, que recebeu a Grande Medalha – o segundo nível, em ordem de importância, da condecoração mineira. Todos receberam a medalha das mãos do governador de Minas, o petista Fernando Pimentel.
Uma justa indignação se fez ouvir já durante a cerimônia: mineiros revoltados promoveram um apitaço e um panelaço em Ouro Preto, para demonstrar seu descontentamento. Alguns agraciados com a Medalha da Inconfidência no passado tomaram a iniciativa de devolver a condecoração. Deputados estaduais da oposição querem aprovar, na Assembleia Legislativa mineira, uma resolução que cancele a premiação de Stédile, embora governistas aleguem que esse tipo de ato legal só se refere a atos exclusivos do governador, enquanto os nomes dos agraciados com a Medalha da Inconfidência são decididos por um conselho.
“A Medalha da Inconfidência objetiva conferir ao agraciado, pessoa física ou jurídica, o reconhecimento do poder público estadual à sua meritória e destacada contribuição ao desenvolvimento cultural, econômico e social do estado e do país”, diz o texto do Decreto 38.690/1997, do governo de Minas Gerais, que regulamenta a condecoração. Pergunta-se: que contribuição destacada ao desenvolvimento de Minas e do Brasil oferece o líder de um grupo que, historicamente, tem atropelado direitos, cometido crimes, destruído pesquisas, tudo em nome da “revolução socialista”? Premiar Stédile desta maneira é incentivar tudo o que ele representa: a desordem que só interessa a alguns e prejudica um país inteiro.
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