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Editorial

O impasse catalão

 | Lluis Gene/AFP
(Foto: Lluis Gene/AFP)

Alheio aos pedidos de diversos líderes políticos, inclusive catalães, o presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, foi ao parlamento da comunidade autônoma, em Barcelona, na terça-feira passada, para uma “independência, só que não”: logo após de fazer a declaração, pediu ao Legislativo local que suspendesse todos os seus efeitos para que pudesse haver uma mediação entre a Catalunha e o governo central espanhol, em Madri.

Puigdemont foi eleito para o parlamento catalão em setembro de 2015 por uma aliança de partidos chamada Junts pel Sí (“Juntos Pelo Sim”, em catalão – o “sim”, no caso, se refere à independência). Ele não era a primeira escolha da coalizão para governar a Catalunha; o plano era manter o então presidente regional, Artur Mas. No entanto, sem ter conquistado a maioria absoluta, o Junts pel Sí iniciou negociações com separatistas de extrema-esquerda que rejeitavam Mas. Apenas em janeiro de 2016, com a ameaça de convocação de uma nova eleição que poderia mudar o panorama local, os dois grupos separatistas concordaram em formar maioria com um outro presidente regional. Assim, com discurso mais radical que seus antecessores, Puigdemont assumiu o governo catalão, recusando-se a jurar lealdade ao rei e à Constituição da Espanha.

As cenas de violência policial contra os eleitores não apagam o fato evidente de que se tratou de uma consulta ilegal

Mesmo sem o respaldo da maioria absoluta do eleitorado catalão – somados, os separatistas tiveram 47,8% dos votos em 2015 –, o governo de Puigdemont se viu no direito de afrontar a Constituição espanhola convocando o plebiscito de 1.º de outubro. As cenas de violência policial contra os eleitores não apagam o fato evidente de que se tratou de uma consulta ilegal, e foi esse o tratamento dado ao plebiscito por vários países e organizações internacionais. O resultado foi amplamente favorável à independência, e não havia como ser diferente, pois os partidos de oposição, contrários ao separatismo, convocaram boicote.

Os números estavam longe de retratar a vontade popular e, além disso, centenas de milhares de pessoas se manifestaram contra a independência, em Barcelona, no domingo seguinte ao plebiscito. Talvez por isso Puigdemont tenha optado pela declaração seguida de recuo no último dia 10: precisava dar uma satisfação aos seus companheiros separatistas e salvar a própria figura, já que o “sim” tinha vencido o plebiscito, mas também sabia que isso pouco lhe servia para atingir o objetivo de tornar a Catalunha uma república independente, sem apoio da comunidade internacional e contra a lei espanhola.

Apesar da solução encontrada pelo presidente regional catalão, a instabilidade está criada e várias empresas, incluindo os dois maiores bancos da região, já começaram a fugir para ambientes mais seguros, mudando suas sedes. Como na grande maioria dos casos se trata apenas de mudança organizacional, ainda não há impacto sobre os níveis de emprego, mas a vice-primeira-ministra espanhola, Soraya Saenz, já fala em risco de recessão na Catalunha. A questão é se Puigdemont está disposto a pagar para ver.

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