“A próxima década apresenta à sociedade brasileira um enorme desafio, com implicações que certamente condicionarão a vida das próximas gerações. Do ponto de vida econômico, o país defronta-se com a necessidade de suplantar seus graves problemas estruturais, tais como a estagnação econômica, os atuais níveis de pobreza e a precária situação financeira e capacidade operacional deficiente do setor público. A superação desses problemas é condição essencial para a consolidação do processo democrático e para a extensão da cidadania plena a todos os brasileiros.”
“A crise vivida pela economia brasileira não é conjuntural. É produto do esgotamento do próprio padrão de desenvolvimento adotado nos últimos 50 anos. A superação desse estado de coisas é tarefa inadiável. Não bastasse a dimensão das dificuldades internas, estas são ainda potencializadas por uma situação internacional em transformação acelerada, o que exige do país uma rápida adaptação. Está em curso uma verdadeira revolução no sistema produtivo propiciada pelas inovações e pelas novas formas organizacionais, abrangendo desde a concepção de produtos e serviços até os processos de produção e as relações de trabalho neles contidas.”
O país dispõe dos meios para, pelo menos no médio prazo, reverter a precária situação herdada dos anos anteriores
Qualquer um quer ler os dois parágrafos acima e os confronte com a situação atual do Brasil dificilmente terá como discordar do fato de que eles retratam a realidade econômica do país herdada pelo governo Bolsonaro. Embora o quadro atual contenha outros problemas e outras distorções, a descrição contida nos dois parágrafos é representativa da situação atual da economia brasileira. Porém, nenhuma das frases é nova: rigorosamente todas elas foram tiradas do Plano de Reconstrução Nacional, apresentado ao Congresso Nacional pelo então presidente Fernando Collor de Mello, em 1991.
Conhecido como “projetão”, aquele documento de 141 páginas era uma das melhores análises produzidas até então sobre a economia brasileira e continua válido até hoje praticamente em sua totalidade, embora seja um documento de 28 anos atrás. O documento houvera sido produzido por uma equipe de economistas e técnicos de vários setores e até hoje é reconhecido como uma peça de alto nível que, se fosse seguida, poderia tirar o Brasil do atraso e da pobreza. O governo Collor, no entanto, afundou na corrupção, perdeu a governabilidade e terminou com o impeachment do presidente da República em 29 de dezembro de 1992, mesmo dia em que enviou carta de renúncia ao Congresso Nacional.
A releitura do “projetão” é útil para confirmar aquilo que Tancredo Neves gostava de repetir: “Os problemas do Brasil não mudam, logo não mudam as soluções”. A questão essencial a se perguntar é por que razões o Brasil queima tanto tempo sem conseguir livrar-se das mazelas econômicas e sociais que o afligem há décadas, quando países com muito menos recursos naturais venceram a pobreza e o subdesenvolvimento social. Pois agora um novo jogo começou. Praticamente tendo perdido as duas primeiras décadas do século 21, o Brasil assiste não apenas à posse de um novo governo, mas de um governo com linha de pensamento bastante diferente daquela defendida pelos eleitos nos últimos quatro mandados presidenciais.
Leia também: Uma chance para a pauta liberal (editorial de 4 de novembro de 2018)
Leia também: Problemas e oportunidades (editorial de 25 de dezembro de 2018)
O campo de jogo é o mesmo, os problemas se repetem, mas a equipe é outra e o técnico professa crenças e estratégias em nada parecidas com os anteriores. O presidente Jair Bolsonaro terá de enfrentar um quadro de deterioração econômica bastante grave, tanto em relação à economia privada – atrasada em relação ao crescimento do PIB e à incorporação de tecnologias modernas – quanto em relação à economia do setor público, estrangulada por déficits fiscais crônicos, inchaço, ineficiência e corrupção. Seria ingenuidade acreditar que se pode consertar em apenas quatro anos um país do tamanho do Brasil com o enorme elenco de problemas que o afetam. Mas é possível evoluir e começar a caminhada rumo ao crescimento, avanço social, redução da violência urbana e perspectiva de sair da pobreza.
No curto prazo, o governo precisará atacar o principal problema econômico e social: o desemprego e o subemprego. A principal arma para combater esse mal é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que dependerá de condições internas e do comportamento do mercado internacional. As primeiras impressões deixadas pela nova equipe econômica têm gerado otimismo, e um dos sinais é a reação positiva dos mercados financeiros, cujos negócios funcionam influenciados pelas expectativas de crescimento e de reorganização da economia em geral. O Brasil tem desafios complexos, não fáceis de vencer, mas o país dispõe dos meios para, se não em prazo curto, pelo menos no médio prazo reverter a precária situação herdada dos anos anteriores.
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Copom aumenta taxa de juros para 12,25% ao ano e prevê mais duas altas no próximo ano
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast