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| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está de saída da Esplanada dos Ministérios e do PSD, o partido pelo qual pretendia lançar-se candidato à Presidência da República. Em 7 de abril vence o prazo para que os integrantes do governo que têm alguma ambição eleitoral entreguem seus cargos, e o ministro também definiu sua migração para o MDB, já que seu partido atual parece mais inclinado a apoiar o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, fechando a porta a uma candidatura de Meirelles. A escolha, no entanto, não garante que o ministro dispute a Presidência, já que o presidente Michel Temer ainda não saiu do páreo.

Meirelles adoraria repetir a trajetória de Fernando Henrique Cardoso, que também saiu do Ministério da Fazenda para o Planalto, em 1994. No entanto, o atual ministro não tem um Plano Real para chamar de seu e catapultar seu capital eleitoral. Isso não significa, evidentemente, que a passagem de Meirelles pela Fazenda nestes pouco menos de dois anos não seja digna de nota: ele foi peça fundamental para que o país saísse da pior recessão da história, na qual o Brasil foi lançado pela “nova matriz econômica” de Lula e Dilma Rousseff – curiosamente, quando Dilma demitiu Joaquim Levy, o ex-presidente tentou convencê-la a trazer Meirelles (que tinha sido presidente do Banco Central nos oito anos de Lula) para o ministério; ela preferiu o gastador Nelson Barbosa e a crise só se aprofundou.

O momento pede alguém mais técnico para suceder Meirelles no Ministério da Fazenda

Recrutado por Michel Temer antes mesmo que o Senado tivesse afastado Dilma Rousseff, Meirelles colocou em prática uma política econômica que resultou em três grandes êxitos: a queda da inflação, a ponto de ela ficar abaixo do piso da meta definida pelo Banco Central após ter superado os 10% em 2015; a redução da taxa Selic ao patamar mais baixo da história – na semana passada, um novo corte trouxe os juros para 6,5% ao ano; e o fim da recessão, com o país crescendo 1% após dois anos de retração. Ao ter colocado um freio na inflação, a política de Meirelles ajudou especialmente os mais pobres, aqueles que têm menos possibilidades de se proteger da disparada dos preços. Mas o ministro deixa a Fazenda sem ver maiores progressos na segunda variável que compõe o famoso “índice da miséria” do economista Arthur Okun: o desemprego. Seria possível alegar que, quando o país se recupera de uma crise, o emprego é o último indicador a reagir; mas o fato é que essa recuperação tem sido lenta demais para o grande dano causado às famílias daqueles que permanecem sem trabalho.

A grande frustração do ministro é, certamente, não ter conseguido realizar a reforma da Previdência. Mas este fracasso não deve ser imputado a Meirelles: em meados de 2017, a aprovação da reforma parecia próxima, mas as conversas nada republicanas mantidas na calada da noite entre Michel Temer e Joesley Batista demoliram essa possibilidade; Temer passou o resto do ano gastando seu capital político para se manter no cargo e, enquanto isso, deputados desidratavam a reforma, cobrando a manutenção de privilégios dos setores mais articulados como condição para apoio à emenda constitucional – que, no fim, acabou engavetada. Esse desfecho, ainda por cima, ajudou a manter os prognósticos sombrios a respeito da dívida pública, que continua aumentando como proporção do PIB, em uma dinâmica nefasta que Meirelles também não foi capaz de conter.

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Meirelles apontou dois nomes bastante qualificados para sucedê-lo na Fazenda: Eduardo Guardia, secretário-executivo da pasta, e Mansueto Almeida, secretário de Acompanhamento Econômico. Mas o presidente do MDB, senador Romero Jucá, já manifestou preferência pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. O momento pede alguém mais técnico à frente do Ministério da Fazenda; um ministro de perfil mais político tenderia a fazer concessões perigosas em época eleitoral, ameaçando o ajuste fiscal iniciado por Meirelles – e, especialmente contra Oliveira, pesa o fato de ter sido mencionado nas investigações da Operação Zelotes. Se é verdade que nenhuma grande reforma será aprovada durante a campanha, há toda uma agenda microeconômica que precisa ser implementada para tirar as amarras que dificultam a vida do empreendedor, e um ministro que represente continuidade em relação a Meirelles estará em melhor posição para avançar nesta área.

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