No dia 13 de março, após conversar com líderes europeus, o presidente Michel Temer afirmou que estava próxima a data em que seria assinado o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Segundo o presidente, essa expectativa positiva se formou a partir da confirmação feita pelos líderes europeus de que o bloco estaria disposto a refinar os pontos restantes e fechar as últimas negociações para a assinatura do acordo, que já vinha sendo discutido havia 19 anos. Se o acordo for assinado, ele representará dois aspectos principais: um é de natureza política, porquanto ocorre no momento em que o mundo passa por trepidações na doutrina do livre comércio, especialmente depois que os Estados Unidos anunciaram a imposição de tarifas de importação sobre aço e alumínio; outro é de natureza estritamente econômica, por significar ampliação das relações entre os países do Mercosul e os membros da UE, projeto esse que vem sendo adiado há algumas décadas.
O debate estabelecido diz respeito ao que Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai teriam a ganhar com a assinatura do acordo. A Venezuela também é membro do Mercosul, mas um membro estranho que destoa dos outros quatro, pois ingressou no bloco por obra de Dilma Rousseff e seus amigos esquerdistas Cristina Kirchner e Pepe Mujica, que impuseram o país de Chávez e Maduro na brecha da suspensão temporária do Paraguai do Mercosul, decidida pelo trio em razão do impeachment do presidente Fernando Lugo. O Paraguai era contra a entrada da Venezuela – entre outras razões, porque o estatuto do Mercosul veda o ingresso de países antidemocráticos e agressores dos direitos humanos. De qualquer forma, a Venezuela hoje está numa situação política, econômica e social tão caótica que ninguém sabe que consequências para as relações desse país com o bloco europeu advirão do acordo.
A América Latina está atrasada na absorção e incorporação de tecnologias testadas e aprovadas no mundo desenvolvido
Afora o problema da Venezuela, para os demais membros o primeiro resultado esperado é aumento no volume do comércio multilateral entre os país dos dois lados do acordo, com possibilidade de melhorias para as economias dos envolvidos, sobretudo em termos de crescimento, pois o bloco europeu é um mercado com 750 milhões de habitantes e renda por habitante bastante boa. Outro aspecto importante é a possibilidade de ampliação do intercâmbio tecnológico e de propriedade intelectual, já que a América Latina inteira está atrasada na absorção e incorporação, em seu processo produtivo, de tecnologias já testadas e aprovadas no mundo desenvolvido. Quanto ao Brasil, espera-se que haja expansão dos investimentos feitos no território brasileiro por empresas europeias em setores como infraestrutura física, mecânica pesada, máquinas e equipamentos, energia, transporte e telecomunicações.
Em síntese, o acordo tem condições de permitir efeitos positivos para os membros do Mercosul, sobretudo porque, ao ampliar o comércio multilateral entre os países-membros, serão ampliados os investimentos que levam à expansão do intercâmbio tecnológico e aumento do emprego derivado de mais exportações. Além dos aspectos meramente econômicos, a diplomacia mundial há muito tempo desenvolveu a teoria de que os países que mantêm comércio entre si e nos quais suas empresas investem de lado a lado em geral não têm estímulo para entrar em conflito e muito menos em guerra, pois a expansão do comércio multilateral faz que os interesses econômicos das populações locais atuem como inibidor de guerras, dando ao comércio entre nações certa capacidade de fomentar a paz.
O acordo ainda não está assinado e, embora os sinais sejam positivos e conducentes à crença de que será assinado em breve, vale a pena esperar até a conclusão para comemorar. Em outras oportunidades, a assinatura esteve perto de ocorrer, mas, ao fim, por alguma razão típica da diplomacia internacional, o acordo foi engavetado e não concluído. Que desta vez seja diferente.