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Editorial

Onde estão os estadistas?

A Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, em Brasília. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

O poder nada mais é que um conjunto de meios materiais e instrumentos jurídico-políticos que legitimam e dão sustentação a medidas e ações capazes de funcionar no plano individual, empresarial ou nacional, em geral com o fim de levar à realização de obras físicas, sociais ou comportamentais a partir do emprego dos recursos exigidos. Os elementos do poder são, portanto, os meios de ação efetivamente existentes. Referindo-se a uma coletividade complexa, caso de uma nação inteira, o poder existe ou não conforme a presença real daqueles meios exigidos para que algo seja realizado. Uma catástrofe natural, como é o caso da atual pandemia, exige um arcabouço de ações inteligentes, coordenadas, funcionais e eficientes para o alcance dos objetivos propostos e dos resultados esperados.

Para tanto, o líder maior ideal como coordenador do processo e legítimo no exercício do cargo e das prerrogativas da função é aquele que disponha de inteligência, alta cultura, compreensão dos problemas, espírito de renúncia e dedicação a uma causa coletiva acima de seus interesses cotidianos. Essa é uma boa – mas não a única – definição do que seja um estadista, tão importante quanto mais difícil é o momento que dele exige o que tem de ser feito, não apenas o que ele quer pessoalmente que seja feito. Não é por outra razão que se afirma dos estadistas que sua marca maior é pensar nas próximas gerações, enquanto os políticos entregues à mesquinharia diária pensam diuturnamente no poder pessoal, nas benesses do cargo e nas próximas eleições.

Os anos de 2020 e 2021 apenas mostrarão o quanto a pobreza política e a indigência moral (além, é claro, da corrupção e da ineficiência) cresceram na estrutura de poder no Brasil, espalhando-se por todos os espectros ideológicos e partidários

Tanto se tem falado sobre o momento histórico por que passa o Brasil e também o resto do mundo, e que nunca o país necessitou tanto e nunca clamou tanto por líderes que estejam acima da pobreza intelectual e moral cotidiana da política miúda e dos jogos de poder pessoal. Um estadista, neste momento tão dramático e sofrido da vida nacional, sentir-se-ia impelido a sacrificar tudo: vaidade, arrogância e pretenso conhecimento que não tem em favor de uma grande atitude nacional de conciliação e trabalho pensando no ponto único que importa, que é salvar a população dessa tragédia sanitária que se abateu sobre todos, ainda que o grau de certeza científica envolvido no problema não seja conhecimento exato. Um estadista age quando tem de agir, não à espera que todos os conhecimentos sejam consolidados e inquestionados.

Pode parecer repetitivo, mas o Brasil precisa se perguntar: onde estão os estadistas? Aqueles que, dispondo do poder e dos meios de ação, se entregassem à obra maior de fazer algo, ainda que os recursos sejam escassos, sairiam consagrados da vida pública e realizados por toda a sua existência na Terra, pois o estadista é assim: quanto mais dele a nação precisa, mais ali ele está. Mas onde estão os estadistas da política brasileira? O que houve, afinal, com o trem descarrilado da política nacional, em que a mediocridade e a pobreza de líderes são as marcas da maioria – não de todos, que fique muito claro – dos homens públicos que povoam a nave do poder, em Brasília, nos estados e nos municípios?

Na economia, principalmente com a crise agravada pela pandemia e suas consequências, exacerbou-se o atraso e o esgotamento do padrão de desenvolvimento adotado das últimas quatro décadas, em que o Estado agiu como o motor central do desenvolvimento usando alta e perversa carga tributária (uma das piores do mundo), operada por uma máquina estatal cheia de distorções, com baixa eficiência alocativa e corrupta, ao lado da apropriação de expressiva parcela do produto nacional sob leis feitas por seus próprios beneficiários: funcionários, políticos e certos segmentos empresariais, cuja arquitetura é quase impossível desmontar.

Os anos de 2020 e 2021 apenas mostrarão o quanto a pobreza política e a indigência moral (além, é claro, da corrupção e da ineficiência) cresceram na estrutura de poder no Brasil, em todos os poderes e esferas de governo, espalhando-se por todos os espectros ideológicos e partidários. Infelizmente, procuram-se estadistas, como se vê pelo desencanto estampado no rosto dos milhões de brasileiros sofredores nesta triste fase da vida nacional, independentemente da coloração político-eleitoral. Como nunca, a evolução política brasileira reclama o surgimento de uma nova geração de líderes nos quais a nação possa minimamente acreditar e saber que, com suas virtudes e imperfeições, farão algo em favor da população, renunciando ao gozo pessoal de suas vaidades e à pretensão de um conhecimento que definitivamente não têm.

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