O fascismo sindical voltou à ativa nesta terça-feira, em Curitiba. Já no início do dia, servidores públicos derrubaram as grades e bloquearam o acesso à Câmara Municipal, impedindo a realização da sessão legislativa que analisaria quatro projetos do pacote de ajuste fiscal da prefeitura. Apenas os vereadores contrários ao pacote tinham passagem livre; os demais não podiam entrar. Quem já estava dentro do prédio e quisesse ou precisasse sair era impedido de retornar, e a reportagem da Gazeta do Povo apurou que os servidores estavam até mesmo impedindo a entrega de pedidos de comida feitos por quem estava na Câmara. A imprensa também não pôde entrar.
Mesmo depois do estabelecimento de uma mesa de negociação, no meio da tarde, a exigência de cancelamento da sessão permanecia. No fim, a truculência falou mais alto e os servidores invadiram o prédio quando julgaram que os vereadores estavam demorando demais para responder a uma proposta de retirada do caráter de urgência dos projetos.
Há o risco de se consolidar a ideia de que só houve recuo graças ao cerco e à invasão
Por mais comparações que tenham sido feitas com o 29 de abril de 2015, em que as circunstâncias foram muito semelhantes – em ambos os casos, o dia começou com servidores tentando impedir o funcionamento normal do Poder Legislativo –, durante boa parte desta terça-feira a postura tinha sido de negociação. Há alguns fatos concretos que não têm como ser contornados, como um laudo do Corpo de Bombeiros que estima a capacidade máxima das galerias da Câmara em cerca de 90 pessoas – e já na segunda-feira os vereadores estavam dispostos a ceder ampla maioria deste espaço a representantes dos servidores, para que acompanhassem a sessão. Não seria nada razoável correr o risco de um sério problema de segurança superlotando o local.
A prioridade, até o fim da tarde, era garantir que o Legislativo pudesse realizar seu trabalho (o que incluiria, se fosse a escolha dos vereadores, retirar o caráter de urgência dos projetos, como proposto pelo Ministério Público) com a presença dos servidores, obviamente limitada à capacidade das galerias da Câmara. A invasão do prédio, no entanto, mudou completamente o cenário. A negociação urgente passou a ser para que os servidores e sindicalistas pudessem deixar as dependências da Câmara de forma pacífica, mas os servidores decidiram permanecer no local até a meia-noite de terça. A negociação ainda incluiu a suspensão da sessão da Câmara até a próxima semana e a realização, na quarta-feira, de uma reunião entre representantes dos servidores e da prefeitura.
Leia também: O ajuste fiscal e o protesto dos servidores (editorial de 12 de junho de 2017)
Considerando tudo o que houve, o episódio desta terça-feira poderia ter sido muito pior, e só o sangue frio dos envolvidos – especialmente as autoridades – tem impedido que haja violência e vítimas. No entanto, existe um risco: o de se consolidar a ideia de que só houve recuo graças ao cerco e à invasão promovidos pelo fascismo sindical – e, lamentavelmente, apoiados por vereadores de oposição. A mensagem de que essa estratégia funciona apenas fragiliza a democracia e reforça a posição daqueles que veem a truculência, e não a força das ideias e da argumentação, como forma de fazer política.
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