Trânsito caótico, beirando 1 milhão de veículos, invasão de áreas, especulação imobiliária, violência e outros problemas. Os moradores de Curitiba e região metropolitana já vivem o prenúncio do que os aguarda nos próximos anos. E o quadro tende a piorar, em todos os sentidos, caso medidas urgentes não venham a ser tomadas. Uma projeção do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), indica que a Região Metropolitana de Curitiba terá mais 1,6 milhão de habitantes até 2020. O estudo confirma tendências já detectadas quanto ao crescimento das cidades ou o seu inexorável inchaço.
As perguntas são inevitáveis: estaremos preparados? Haverá condições e, mais importante, tempo para uma guinada de rumo suficientemente aguda para absorver o impacto de tamanha mudança?
O Paraná, ainda conforme o Ipardes, deve chegar a 11,18 milhões de habitantes em 2020, por conta de um crescimento de 17%. A projeção tem como base o Censo de 2000, do IBGE. Em 13 anos, a previsão é que o estado agregará 1,62 milhão de moradores a mais. A RM de Curitiba passaria a quase 4,4 milhões de habitantes, trazendo "desafios inéditos" para o planejamento urbano e ambiental, segundo os técnicos. Pularia de oitava grande conurbação brasileira para uma das cinco maiores do país. O município de Fazenda Rio Grande, por exemplo, tem hoje o tamanho de um bairro de Curitiba, mas, pelo que se desenha, será uma das sete maiores cidades do estado em 2020.
O professor do mestrado de Organizações e Desenvolvimento na UniFae, Christian Luiz da Silva, diz não haver garantia de que as medidas necessárias para minimizar as complicações futuras estão sendo tomadas. As ações são muito primárias na integração, diz ele, com as prefeituras em ações "individualizadas", lembrando que, no saneamento básico, alguns municípios da RMC sequer dispõem de rede de esgoto.
A infra-estrutura de hoje já não dá conta da população de 3,1 milhões de habitantes. Frisa ele que Curitiba sofre os efeitos direitos da superlotação e que os municípios do entorno não têm meios para suportar esse crescimento. A principal alternativa para estancar o processo de conurbação seria manter o desenvolvimento em outras regiões do estado, com deslocamento de potencial econômico.
O diretor da Coordenação da Região Metropolitana (Comec), Alcidino Bittencourt Pereira, afirma que o planejamento começa a ser integrado. Cita, nesse aspecto, as medidas do consórcio de depósito de lixo. Reconhece, porém, que a perspectiva de crescimento traçada pelo Ipardes sinaliza desordenação e mais desigualdade.
No Paraná, 250 dos 399 municípios já concluíram ou vêm elaborando seus planos diretores, por força de lei. O Estatuto das Cidades determina que todo o município com mais de 20 mil habitantes tenha seu plano. O prazo fixado pelo Ministério das Cidades vence em outubro. É uma convocação para se buscar uma nova lógica para o crescimento urbano, inclusive ouvindo-se o cidadão em audiências públicas. Como já se disse, a maior obra do homem seria a cidade. Conseguiremos essa proeza?