O Brasil chega ao final da rodada eleitoral indeciso sobre o caminho a seguir: de um lado a continuidade de um projeto de distribuição de renda via inclusão social com crescimento modesto e, de outro, um choque de gestão associado a um modelo capaz de liberar energias para a retomada. Enquanto o apelo social do presidente-candidato à recondução tem índole latino-americana, a plataforma do seu desafiante guarda feição com os regimes industrializados do hemisfério norte.
Ambos têm vantagens e defeitos que o cidadão está sopesando antes de emitir seu voto. No primeiro caso, a política de distribuição estimulada pelo Estado melhora a condição da base da pirâmide social, mas compromete a expansão do produto ao reduzir recursos aplicáveis no investimento. O exemplo é a Argentina, onde o governo Kirchner entrou em conflito com segmentos refratários à extensão do congelamento de preços numa conjuntura de inflação.
A segunda vertente é representada pelo ex-governador paulista, que alinhava conceitos de racionalização administrativa, enxugamento da máquina pública e combate ao desperdício. Porém muitos votantes não se sensibilizam com choque de gestão e corte de gastos; antes vêem com reserva essa pregação vinculada à concepção liberal de Estado.
Aproveitando o ensejo, na periferia de São Paulo o presidente acusou seu opositor de defender os interesses da elite, repetindo que "rico não precisa do Estado, quem precisa é o pobre deste país". Dias depois, em comício no Nordeste, voltou a criticar "a elite rica de São Paulo", merecendo resposta do colunista Gilberto Dimenstein pelo "desserviço à construção da democracia". De fato, numa sociedade organizada, todos os componentes precisam do po-der público.
Sem o Estado não há ordem e nenhuma riqueza pode ser conservada, mostram os exemplos da História. Infelizmente, nas últimas décadas o Brasil não cresceu o suficiente para elevar sua população ao patamar superior e médio de renda; a maioria que permanece pobre acostumou-se a depender de um Estado provedor que atende pleitos menores, mas é incapaz de articular um projeto de desenvolvimento.
Em vez de apelos de ocasião devemos destacar, como as nações que dão certo, exemplos de sucesso pessoal e empresarial para estimular uma cultura favorável ao ambiente de negócios. Essa é a História do Ocidente, onde seguidamente são lançadas biografias sobre a carreira de pessoas bem sucedidas. A Índia está rompendo a cortina da pobreza com uma campanha de valorização cultural dessas realizações e na China, milionários surgidos na esteira das reformas, repetem os êxitos de empreendedores do Japão e Coréia do Sul.
Em vez de uma clivagem não interessante nem positiva, os candidatos devem atentar para o fato de que o eleito terá que enfrentar o desafio da busca de um consenso básico para aliar a continuidade das políticas sociais com a estabilidade, porém sem descuidar de ações para a retomada do crescimento.
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