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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Em sua incansável luta contra a realidade, o Partido dos Trabalhadores apresentou nesta terça-feira uma rendição. Finalmente aceitando, embora muito a contragosto, o fato de que o ex-presidente e atual presidiário Lula não pode concorrer à Presidência da República, o PT formalizou a mudança na sua chapa, “promovendo” o ex-prefeito Fernando Haddad à cabeça de chapa, com a companhia de Manuela D’Avila, do PCdoB, que deixa de ser a “vice do vice” informal para aparecer na urna eletrônica ao lado do petista. A alteração foi feita no último dia do prazo dado pelo Tribunal Superior Eleitoral em seu julgamento de 31 de agosto, quando o registro de candidatura de Lula foi cassado.

O PT alongou o desafio às instituições até onde foi possível. A condenação de Lula pela Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) fez dele um ficha-suja e, portanto, inelegível. No entanto, como os âmbitos criminal e eleitoral da Justiça são separados, o partido conseguiu protocolar o registro de candidatura, ajudado por uma regra que dispensava a legenda de apresentar a certidão do TRF-4 onde apareceria a condenação. Sendo formalmente candidato, Lula aparecia nas pesquisas de intenção de voto e estava prestes a se apresentar a todo o Brasil no rádio e na televisão como o candidato petista, até que o TSE colocou um fim à farsa na véspera do início do horário eleitoral gratuito.

A normalidade está restaurada, completando o trabalho iniciado pelo TSE no fim de agosto

No entanto, graças à benevolência dos ministros, que mantiveram o tempo de propaganda petista enquanto a chapa ficava acéfala, o PT conseguiu esticar um pouco a confusão. Quando não aparecia explicitamente como candidato do partido, Lula protagonizava as inserções, enquanto Haddad se apresentava ora como “vice de Lula”, ora como “vice de ninguém”. O abuso provocou várias decisões do TSE que tiraram do ar determinadas peças de propaganda eleitoral do partido.

Com a formalização na mudança de chapa, finalmente as cartas estão todas na mesa. Haddad será o candidato do partido, participará dos debates e será o personagem principal da propaganda partidária, que reserva aos “apoiadores” não mais de 25% do tempo; os institutos de pesquisa enterrarão de vez os bizarros “cenários com Lula”. A normalidade – embora seja totalmente pertinente questionar que “normalidade” existe em uma campanha na qual um dos “grandes eleitores” pretende convencer o eleitorado de dentro de uma cela, condenado por uma prática que o país inteiro repudia – está restaurada, completando o trabalho iniciado pelo TSE no fim de agosto.

Leia também: A resposta do TSE à provocação (editorial de 4 de setembro de 2018)

Leia também: O fim da farsa (editorial de 1.º de setembro de 2018)

Haddad tem, agora, pouco menos de 20 dias para testar o poder de transferência de votos de seu padrinho – ele mesmo foi um dos “postes” eleitos no auge da popularidade de Lula, que já tinha colocado Dilma Rousseff no Planalto em 2010 e, dois anos depois, emplacou seu ex-ministro da Educação na prefeitura de São Paulo. Quando teve de disputar a reeleição quatro anos depois, no entanto, Haddad foi triturado por João Doria Jr., tucano que foi o primeiro a vencer o pleito municipal paulistano já no primeiro turno. Além disso, em 2010 e 2012 o Brasil ainda não vivia a grave crise econômica que foi uma das “heranças malditas” do petismo no Planalto.

O PT tem um eleitorado cativo que não o abandona nem mesmo diante das gritantes evidências de corrupção envolvendo seus líderes máximos, e que não pode ser menosprezado. A dúvida a ser respondida em 2018 tem a ver com o voto daqueles que até simpatizam com Lula, mas não necessariamente com o petismo ou com outros políticos do partido, mesmo com a recomendação explícita do ex-presidente. Esses eleitores estão, agora, definitivamente livres da confusão em que o PT pretendeu colocá-los ao alimentar por tanto tempo uma candidatura impossível. Que essa tentativa de manipulação do eleitorado não passe despercebida.

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