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Muitos anos após sua apresentação pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), o Senado Federal aprovou na semana passada projeto de emenda constitucional de mudança no modelo orçamentário brasileiro. De autorizativa, como sempre foi e é atualmente no país, a Lei de Meios passará a ser impositiva, caso a PEC conclua sua tramitação no Senado e seja igualmente aprovada pela Câmara dos Deputados.

As chances de que a proposta se torne realidade a curto prazo são mínimas, mas se um dia de fato for implementada o país terá dado um passo importante no sentido do aperfeiçoamento da sua governança e dos métodos de administração dos recursos públicos, com repercussões profundas do ponto de vista da responsabilidade política do Executivo e do Legislativo e da seriedade com que, a partir de então, deverão devotar ao planejamento estratégico.

A diferença entre uma modalidade e outra é grande. Pelo atual sistema, autorizativo, o Poder Executivo estima a receita que terá no exercício seguinte e divide o bolo em fatias de despesa. A proposta orçamentária é, então, enviada ao Congresso, onde é submetida ao crivo e às emendas de parlamentares. Quando finalmente aprovada, surge um Frankenstein – uma peça desfigurada e mutilada com a qual ninguém se compromete: nem o governo é obrigado a cumpri-la, nem o parlamento tem força para exigir que seja seguida. Acaba sendo uma ficção em torno da qual se dá todo tipo de barganha – quase nenhuma em função do interesse coletivo, quase sempre em razão de contingências políticas de cunho paroquial e eleitoreiro.

Já pela modalidade do orçamento impositivo, o governo se verá terminantemente obrigado a executar à risca o que foi aprovado pelo Congresso. E incorrerá até mesmo em crime de responsabilidade se não o fizer – como, aliás, ocorre nas democracias mais adiantadas. Na Inglaterra, por exemplo, o mais crucial papel do Parlamento é justamente o de debater e aprovar o orçamento. O resto de sua atividade, salvo casos excepcionais – como o de uma declaração de guerra, por exemplo –, perde-se em modorrentas sessões de discursos desinteressantes. A todo momento, no entanto, o gabinete de governo precisa dar conta da precisão com que está cumprindo a lei orçamentária.

Tudo leva a crer ser este o modelo ideal para o Brasil – desde que, ressalve-se, os que nos dirigem sepultem definitivamente os vícios que fazem da governança pública tupiniquim uma inominável balbúrdia. Dentre tais vícios, destacam-se o mais absoluto desprezo pelo planejamento e a mais acendrada tendência para fazer do orçamento fonte de tráfico de influência, de acertos políticos menores e de propinagem rasteira.

Sim, é importante que o país venha a adotar o orçamento impositivo – mas que seja ele espelho fiel do planejamento responsável formulado pelo Executivo, efetivamente voltado para a promoção do desenvolvimento econômico e social, e devidamente aperfeiçoado pelo debate parlamentar sério.

Caso contrário, será como trocar seis por meia dúzia.

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