O mercado internacional volta a olhar com desconfiança para o Brasil. Mesmo com os momentos mais graves da crise econômica tendo ficado para trás, com os juros no patamar mais baixo da série histórica e com a inflação dentro da meta do Banco Central, o “risco-Brasil” dobrou neste ano. O credit default swap (CDS) dos contratos de cinco anos, uma espécie de “seguro contra calotes”, está hoje na casa dos 280 pontos, contra 140 em janeiro deste ano. Entre os principais países emergentes do mundo, o Brasil só é superado pela Argentina, que está em situação dramática, tendo de recorrer ao Fundo Monetário Internacional, e a Turquia, que viu sua moeda derreter em meio a um conflito diplomático e comercial com os Estados Unidos. Por mais que o cenário esteja turbulento para todos os emergentes, que sofrerão com um eventual aumento de juros nos Estados Unidos, as principais razões para a desconfiança global são internas.
Por mais que os indicadores mais imediatos sejam bons – à exceção da taxa de desemprego, que teima em se manter nos mesmos níveis há vários meses –, a trajetória da economia brasileira no médio e longo prazo não oferece motivos de comemoração. O governo Temer, que assumiu em 2016 com uma agenda reformista, não conseguiu entregar o que prometeu ao derreter politicamente depois do “furacão Joesley”. Àquela altura, tinha aprovado o teto de gastos, mas deixou por fazer a reforma da Previdência. Agora, a falha dessa estratégia ficou clara: por mais necessário que fosse o teto de gastos, sem as mudanças na aposentadoria o teto não se sustenta, pois as despesas previdenciárias seguirão aumentando em ritmo muito mais veloz que o total de gastos do governo. À medida que os anos passam, a Previdência vai tomar fatias cada vez maiores do orçamento, tirando recursos de todas as outras rubricas e inviabilizando os investimentos. Sem ajustes, a dívida pública continuará a crescer, e a brasileira já está nos 80% do PIB enquanto a média dos emergentes é de 50%.
O Brasil não aguentaria mais quatro anos de irresponsabilidade fiscal e negação das causas do caos das contas públicas
E o futuro do país em termos de política econômica está completamente indefinido. Entre os candidatos competitivos, com chances de ir ao segundo turno, há candidatos que reconhecem a gravidade da situação atual e prometem as reformas necessárias, mas a composição do Congresso Nacional, sem o qual as mudanças não terão sucesso, é uma incógnita. Outros admitem que há um problema, mas oferecem soluções equivocadas. E, por fim, há até mesmo quem negue o problema, dando força, por exemplo, às teorias que misturam números para defender que a Previdência Social não tem déficit. Os programas de governo dos candidatos mais à esquerda, por exemplo, falam em revogação do teto de gastos, criticam a reforma da Previdência e sugerem a volta das políticas que estiveram na origem da crise econômica que estourou em 2014 e cujas consequências amargamos até hoje.
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Se tais propostas estivessem apenas na boca de candidatos sem chance alguma de vitória, o problema seria bem menor. Mas a irresponsabilidade populista é defendida por postulantes ao Planalto que, de acordo com as pesquisas mais recentes, têm chance de ir ao segundo turno e até mesmo de vencer a disputa. No estelionato eleitoral de 2014, Dilma Rousseff venceu a disputa jurando que não havia problema algum com as contas públicas; na versão de 2018, a possibilidade de sucesso do discurso segundo o qual o país não precisa de um profundo ajuste fiscal, nem de reformas como a previdenciária, assusta o investidor interno e externo e prejudica a retomada da atividade econômica.
O Brasil simplesmente não aguentaria mais quatro anos de irresponsabilidade fiscal e negação das causas do caos das contas públicas, e o fato de discursos populistas continuarem a ter força entre o eleitor é um sinal bastante preocupante. Se tais plataformas acabarem vitoriosas, há chances consideráveis de, em um futuro próximo, o brasileiro se lembrar com nostalgia daquele 2018 em que o litro da gasolina e o dólar estavam na casa dos R$ 4.
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