A sucessão de escândalos políticos vivenciados neste ano poderia ser um prato cheio para os brasileiros desistirem de almejar uma nova realidade para a gestão da coisa pública. Porém, decepções à parte, alguns fatos mostram que, ao contrário do que poderia se supor, está sim ocorrendo uma evolução, ainda que lenta, no comportamento desses dirigentes. E essas mudanças demonstram que, no fundo, há bons motivos para se manter uma perspectiva otimista de futuro.
Nesse sentido, vale ressaltar que as denúncias de irregularidades que fizeram cair seis ministros da presidente Dilma Rousseff se sucederam justamente porque está ocorrendo uma fiscalização maior em todas as esferas administrativas, desde a realizada pelos órgãos tradicionais de controle Ministério Público, Controladoria Geral da União e Tribunal de Contas até o trabalho investigatório da imprensa. Também são da maior relevância os indícios de mudança no comportamento de boa parte dos gestores públicos, adotando posições em favor das instituições, afastando denunciados ou até mesmo voltando atrás em decisões que claramente maculam os princípios legais.
Pode-se até argumentar que em certos casos, como o do afastamento de ministros de Dilma Rousseff, houve uma demora excessiva no decurso do tempo entre o conhecimento das denúncias e a saída dos dirigentes. O ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, por exemplo, deixou o cargo 24 dias depois da primeira reportagem que tratou do aumento vertiginoso do seu patrimônio, que cresceu 20 vezes em quatro anos, entre 2006 e 2010; Pedro Novaes, ex-ministro do Turismo, resistiu 36 dias no cargo, apesar das denúncias de uso indevido de funcionários do Ministério para fins privados. E, no mais recente caso, o ministro Carlos Lupi (PDT) suportou os escândalos por 29 dias, apesar da autoconfiança excessiva que o levou a declarações estapafúrdias, como a de que só sairia do cargo à bala.
No âmbito estadual também se constata casos de maior sensibilidade por parte dos gestores públicos em relação às repercussões na opinião pública. Exemplo disso ocorreu no episódio envolvendo o presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), no caso do pagamento do 14.° e do 15.° salário aos deputados. Ele demorou apenas um dia para mudar uma decisão espúria tornada pública pela imprensa, mandando suspender o pagamento da benesse que já durava 16 anos. Na edição de 12 de dezembro passado, a Gazeta do Povo revelou que os parlamentares recebiam a bolada a pretexto de "convocação" e "desconvocação" para sessões.
Da mesma forma, em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) determinou que fosse suspensa uma contratação de aluguel de cerca de 10 mil tablets, um dia após reportagem de O Estado de S.Paulo, divulgar que o valor que seria pago R$ 138,9 milhões era exorbitante. Por esse valor, seria possível a compra de 53 mil iPads da Apple, o tablet mais caro do mercado.
Exemplos, enfim, que demonstram de forma clara algo que até então era pouco usual: a opinião pública brasileira se mostrando mais atenta aos fatos políticos e dessa forma influenciando com maior peso as decisões tomadas por aqueles que têm a responsabilidade de gerir a coisa pública.
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