No último sábado, dia 23 de novembro, chegou ao país mais um grupo de brasileiros resgatados da Faixa de Gaza, no Oriente Médio, região assolada pela guerra, desde o bárbaro e covarde ataque terrorista do Hamas contra Israel, ocorrido em 7 de outubro. Essa foi a terceira fase da Operação “Voltando em Paz”, liderada pela Força Aérea Brasileira, a qual trouxe, desta vez, 16 brasileiros, além de 14 parentes dos repatriados. Desde o início da operação, os militares resgataram 1.555 pessoas que não conseguiam deixar a região de conflito. Nas outras fases, além da Faixa de Gaza, os que buscaram auxílio brasileiro eram provenientes de Israel e da Cisjordânia.
O êxito da operação revela que as Forças Armadas do Brasil têm desempenhado bem seu papel de socorrer cidadãos em situação de crise humanitária. Tal reconhecimento por sua eficiência, na verdade, se torna ainda mais merecido se contraposto ao fato de que os oficiais da instituição têm de lidar, quase que diariamente, com as irresponsáveis declarações emitidas por seu chefe máximo, o presidente da República.
Em diversas ocasiões desde que o conflito começou, Lula equiparou a reação militar israelense ao ataque assassino perpetrado pelo Hamas, o qual desencadeou toda a crise atual. Recentemente, o petista afirmou que Israel estava “matando inocentes sem nenhum critério” e seu partido, o PT, emitiu nota declarando abertamente que os israelenses promoviam um "genocídio" em Gaza. As hostilidades do presidente estavam se tornando tão frequentes que, conforme apurado pela reportagem da Gazeta do Povo, em novembro, assessores do Palácio do Planalto tiveram que agir para conter a verborragia, de modo a viabilizar algum diálogo com as autoridades de Israel e efetivar o resgate de brasileiros.
Em diversas ocasiões desde que o conflito começou, Lula equiparou a reação militar israelense ao ataque assassino perpetrado pelo Hamas, o qual desencadeou toda a crise atual
Já analisamos neste espaço com mais profundidade a retórica de uma falsa equivalência moral usada por Lula para minimizar atrocidades cometidas por líderes ou grupos políticos com os quais simpatiza, ao mesmo tempo em que grosseiramente despreza quaisquer complexidades que dariam razão ao lado adversário. Lula fez isso ao insistir na mentira de que Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, compartilhava da mesma responsabilidade que Vladimir Putin, autocrata russo que invadiu o país vizinho numa violenta agressão militar não vista há décadas no mundo. Também adotou a artimanha para não proferir nenhum juízo moral negativo a respeito de seu amigo bolivariano, Nicolás Maduro, que ameaça abertamente a Guiana, chegando ao escandaloso ato de anexar, ao menos no papel, territórios do país vizinho.
No caso do conflito entre Israel e o Hamas, a inconsequência de Lula em atacar o governo israelense a cada oportunidade, somada à sua constrangedora recusa em classificar os atos do Hamas como terroristas, tem potencial para colocar em risco não apenas as relações diplomáticas dos dois países, mas, concretamente, as vidas de brasileiros que ainda estão na zona de guerra. Aliás, há sinais que permitem a interpretação de que isso pode já ter acontecido quando, no início conflito, os brasileiros não foram inclusos nas primeiras listas de cidadãos estrangeiros que ganharam permissão para deixar a região de Gaza, rumo ao Egito, sendo precedidos por cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, entre outras nações aliadas de Israel.
Com esse alerta não se pretende incentivar que, em nome do pragmatismo, sejam relevados atos desproporcionais do lado israelense, que ultrapassem o razoável para uma reação legítima, caso estas resultem, por exemplo, em crimes de guerra e violações da lei internacional. No mês de outubro já havíamos apontado como questionável a imposição de um bloqueio total por parte de Israel, privando toda a Faixa de Gaza de itens essenciais como combustíveis, eletricidade e água potável, tendo em vista os efeitos dessas ações em hospitais, por exemplo.
O apelo que deve ser feito a qualquer chefe de estado e demais autoridades diplomáticas é por sensatez e mais consciência sobre o impacto de suas declarações. Nenhuma situação que envolva vítimas de guerra devia ficar sujeita às pirotecnias da retórica eleitoral. As vidas resgatadas pela Força Aérea Brasileira poderiam inspirar tal senso de responsabilidade.