Depois da notícia de que o Brasil superou o Reino Unido e ocupa agora a sexta maior economia do mundo (de acordo com o Centro de Pesquisa para Economia e Negócios do Reino Unido), é hora de pensar nos desafios que o Brasil tem na área econômica para o próximo ano. Os três principais são: sustentar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), manter a inflação sobre controle e impedir a queda da taxa de câmbio. No campo social, os dois principais desafios são a redução da pobreza e a manutenção do nível de emprego. Alcançar os objetivos do campo social depende diretamente de vencer os desafios econômicos. Assim, a questão principal é saber se as bases para vencer os três desafios da economia permitem antever êxito nessa tarefa.
A primeira base importante é que o desempenho da economia brasileira em 2012 será ditado pelo comportamento da demanda externa e pela demanda do governo, pois não condições para estimular o nível de atividade produtiva por meio de elevação do consumo das pessoas. A razão é que quase não há espaço para aumentar os gastos das famílias com a elevação da renda pessoal disponível, como também não se pode esperar nova elevação do consumo movido a crédito.
Em relação à elevação do consumo por meio de renda do trabalho, o nível de emprego está alto e, por isso, é difícil aumentar o porcentual de pessoas empregadas e a massa salarial direcionada para consumo. Quanto ao consumo movido a crédito, o nível de endividamento das pessoas atingiu um ponto muito alto, o que leva os devedores a transferirem percentuais elevados de suas rendas para pagar dívidas e esfria a contratação de novas dívidas.
Ainda que o consumo nominal das pessoas possa aumentar em 2012, espera-se que o porcentual de crescimento real será inferior à média verificada nos últimos anos. Assim, a previsão é de que a demanda de consumo pessoal não será o indutor de crescimento do PIB. Em termos das entidades econômicas internas, resta o consumo do governo e os investimentos públicos. O problema é que os recursos arrecadados pelo governo dependem do nível geral da economia e, se a taxa de crescimento do PIB ficar próxima dos 3% em 2012, e não perto dos 5% que o governo andou divulgando, o setor público terá menos dinheiro para gastar.
Há três saídas para aumento dos gastos do governo: elevação da dívida pública, inflação e aumento de impostos. Nenhuma delas é factível e, muito menos, defensável. O Tesouro Nacional não deve fazer mais dívidas, pois a dívida pública total (interna e externa) está próxima de R$ 2 trilhões. A inflação, conquanto provoque aumento da arrecadação de tributos incidentes sobre preços aumentados, é um fenômeno a ser combatido. Em relação aos impostos, não há condições de apoio político da população para qualquer elevação da carga tributária. Se for somado a isso o fato de que o governo anda tendo dificuldades para segurar as despesas de custeio aumentadas nos dois últimos do governo Lula, a previsão é de que o governo não será o motor do crescimento em 2012.
Ainda em relação aos gastos públicos, o Brasil vive uma situação dramática: o país precisa desesperadamente aumentar os investimentos em infraestrutura, a qual é basicamente estatal e recebe investimentos governamentais equivalentes a 2% do PIB, o que é muito pouco. Para piorar o cenário, a atração de capitais privados nacionais e estrangeiros para investimentos em infraestrutura esbarra na falta de conclusão do chamado "marco regulatório" e enfrenta, ainda, a oposição de políticos atrasados e funcionários públicos que ainda veem a privatização como uma praga. Exemplo disso é a manifestação de funcionários das Infraero contra a privatização de algumas obras em aeroportos. Esse comportamento é o símbolo do atraso que ainda existe em áreas da administração pública brasileira.
Em relação à possibilidade de o Brasil sustentar o crescimento do PIB para atender à demanda do resto do mundo, as expectativas não são boas. A crise dos Estados Unidos, o fraco desempenho do Japão e a grave situação da Europa estão aí para mostrar que o mundo terá muitos anos de crise pela frente. Para piorar as coisas, a China vem apresentando indicadores econômicos ruins e, sendo esse país o maior cliente internacional do Brasil, qualquer redução da demanda por lá afeta diretamente as exportações brasileiras e, por consequência, a produção nacional. Com esse quadro internacional, a demanda externa não puxará a produção brasileira para cima.
Relatórios de bancos e órgãos internacionais dão conta de que o Brasil pode se dar por satisfeito caso consiga crescer 3% em 2012, o que está longe dos 5% que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vinha anunciando com ufanismo. Quando a taxa de crescimento do PIB é baixa, a consequência mais imediata é a redução dos salários médios e o aumento do desemprego, fenômenos que, ao lado da inflação, são os maiores fantasmas para qualquer governo.
Como o governo vai enfrentar esses desafios é um mistério, sobretudo porque, neste primeiro ano de Dilma Rousseff, o que mais se viu foram medidas isoladas tomadas ao saber de cada episódio de crise.