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A desnutrição infantil, um dos principais fatores que causam a morte de crianças, está diminuindo no Brasil. Essa boa notícia consta no "Saúde Brasil 2009", publicação anual do Ministério da Saúde que reúne análises e indicadores, divulgado neste mês de dezembro. Era uma das metas dos Objetivos do Milênio, que o país sempre tem dificuldades para alcançar. Como atingiu a sua meta, o Brasil foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo a publicação, o Brasil foi um dos países que mais avançou na redução da desnutrição infantil, entre1989 e 2006. Nessas quase duas décadas, a proporção de crianças menores de 5 anos com baixo peso para a idade caiu de 7,1% para 1,8%; e com baixa altura, de 19,6% para 6,8%. São dados realmente positivos.

O Ministério da Saúde atribui esses resultados a quatro fatores, basicamente: o aumento da escolaridade materna; a melhoria do poder aquisitivo das famílias; a melhoria da atenção à saúde – principalmente para mulheres e crianças, coincidente com a expansão da Estratégia Saúde da Família (ESF) e as ações de incentivo ao aleitamento materno –; e o aumento da cobertura de saneamento básico, como o acesso à água encanada e à rede de esgotamento sanitário.

A verdade é que o Brasil conseguiu atingir esses objetivos porque se desenvolveu. Aquela imagem caricata do personagem de Monteiro Lobato – o "Jeca Tatu" – que tanto marcou a Nação na primeira metade do século 20, está hoje mais distante. Jeca Tatu era personagem do seu livro Urupês, que contém 14 histórias baseadas no trabalhador rural paulista. Simbolizava a situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças. Ele "não gostava de usar sapatos"; era "muito pobre", "ignorante" e "avesso aos hábitos de higiene". Quem sabe, as crianças de famílias de baixíssima renda que conseguiram sobreviver, hoje, pelas melhorias de suas condições de suas vidas, nem irão conhecer o personagem no futuro próximo.

O Jeca Tatu tornou-se célebre porque o governo federal usou sua imagem como símbolo para uma ampla campanha nacional em favor do saneamento, além de esclarecer e educar a população sobre uma doença tropical que, naquela época, vitimava milhões de brasileiros e era tão negligenciada: o amarelão. O Jeca, pelas suas dificuldades, trouxe à tona os problemas de saúde pública existentes no Brasil e, objetivamente, fez um grande serviço à Nação. É preciso esclarecer que o amarelão é uma doença parasitária intestinal que causa diarreia moderada e dor abdominal. Infecções graves de amarelão podem ocasionar sérios problemas de saúde em recém-nascidos, crianças, mulheres grávidas e pessoas subnutridas.

Felizmente, o Brasil dos tempos em que o amarelão era uma epidemia não existe mais. No entanto, o País não evoluiu o suficiente para extinguir para sempre a triste imagem do personagem de Monteiro Lobato. Muitos problemas ainda são graves na área de saúde pública e o país precisa avançar muito. A questão da falta de saneamento é crônica. Assim como outra doença tropical, a dengue, por incrível que pareça, continua fortemente presente, especialmente em grandes centros urbanos. Sempre que chega o calor vira motivo de preocupação. Só para citar dois exemplos.

Hoje, a população brasileira produz, em média, 8,4 bilhões de litros de esgoto por dia. Desse total, 5,4 bilhões não recebem nenhum tratamento, ou seja, apenas 36% do esgoto gerado nas cidades do país é tratado. O restante é despejado sem nenhum cuidado no meio ambiente, contaminando solo, rios, mananciais e praias do País inteiro. O que isso afeta de fato a saúde pública ainda não foi dimensionado.

A falta de saneamento é apenas uma parte do cenário. O Brasil ainda vive problemas de subdesenvolvimento, principalmente quando o assunto é doença e falta de estrutura básica para boa parte da sua população. Portanto, o país vai precisar ainda de muitos investimentos, ação governamental e educação até chegar ao ponto de comemorar melhorias definitivas e inquestionáveis na saúde de nossas crianças e da nossa população no geral. Senão, sempre será, um pouco, a terra do Jeca Tatu.

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