O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu o mercado com um corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, baixando-a para 3% ao ano – boa parte dos analistas esperava um corte de 0,25 ou de meio ponto. Além disso, o comunicado emitido ao fim da reunião já antecipou a possibilidade de um novo corte, que também pode chegar ao mesmo 0,75 ponto porcentual. Os membros do comitê expressaram duas grandes preocupações no texto divulgado na noite de quarta-feira.
A primeira é com a intensidade do caos econômico causado pelas medidas adotadas para conter a pandemia do coronavírus. Os efeitos estão sendo bem maiores do que os imaginados pouco mais de um mês atrás, quando o Copom já tinha realizado um corte na Selic tendo em vista as consequências da Covid-19. Os riscos foram resumidos pelo ministro Paulo Guedes, durante a visita-surpresa feita por Jair Bolsonaro ao presidente do STF, Dias Toffoli: “Embora tenhamos lançado dois ou três meses de proteção, talvez os sinais vitais não sustentem por tanto tempo. Talvez vamos ter um colapso antes. Quando a indústria nos passou esse quadro, estamos sempre em contato, sempre disseram que conseguiram preservar os sinais vitais. Mas agora nos disseram que está difícil. A economia está começando a colapsar”. Entre os vários indicadores econômicos recentes, um bastante emblemático vem da Anfavea, a associação das montadoras: a produção de automóveis em abril caiu 99% na comparação com o mesmo mês do ano passado, com números piores até que os do início da produção de automóveis no Brasil, no fim dos anos 50 do século passado.
O Copom teme que a pandemia acabe sendo o pretexto perfeito para os defensores do retorno da gastança darem o bote
Há alguns outros sinais de que a rede de proteção desenhada pelo governo federal anda esbarrando em problemas de ordem prática e que estão prejudicando a sua efetividade. É o caso da linha de crédito para bancar a folha de pagamento das empresas com spread zero, em troca do compromisso de não haver demissões. Apenas 1% do valor total disponível foi liberado até agora – a MP exige que as empresas tenham a folha processada em um banco, já que o dinheiro é depositado diretamente na conta do trabalhador, sem passar pelo empregador, mas isso deixou de fora inúmeras pequenas e médias empresas que não adotam este expediente, e que estão sendo forçadas a buscar outros meios para sobreviver em meio à crise.
A segunda preocupação do Copom é com o futuro fiscal do país. A insistência nas reformas macroeconômicas, que tem marcado os comunicados das reuniões já há alguns anos, continua presente no texto, mas o perigo maior no momento reside em “políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada” e “alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas” que “podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”. Em outras palavras, o Copom teme que a pandemia acabe sendo o pretexto perfeito para os defensores do retorno da gastança darem o bote. Mesmo antes do coronavírus já existia, por exemplo, um movimento pela abolição do teto de gastos; ele ganhou, agora, a companhia daqueles que acreditam no protagonismo do poder público nas ações de reconstrução da economia, sem falar dos sinais contraditórios vindos de dentro do próprio governo, em direção contrária ao compromisso de Paulo Guedes com o ajuste fiscal e a retomada das reformas assim que for possível.
As políticas de combate à pandemia têm data marcada para terminar, até porque o estado de calamidade pública teoricamente se encerra em 31 de dezembro. Mas os membros do Copom conhecem muito bem a famosa frase de Milton Friedman, para quem “nada é mais permanente que um programa temporário do governo”. Se pelo menos parte do gasto extraordinário – e necessário – que está sendo feito agora encontrar alguma forma de se eternizar no orçamento, não haverá reforma macroeconômica que dê jeito no buraco que o Brasil estará cavando para enterrar a si mesmo.
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