Por suas declarações públicas e pelos ministros e outros dirigentes de primeiro escalão já anunciados, o governo do presidente Jair Bolsonaro começa a se delinear de forma a permitir conclusões a respeito de três eixos estruturais principais. O primeiro eixo é a clara intenção de priorizar um sistema econômico baseado nos pilares da livre iniciativa – tendo o setor privado como motor do crescimento sob os princípios da economia de mercado, aberta e competitiva –, e a gestão do governo com austeridade e equilíbrio das contas públicas. Essa configuração explica a escolha de Paulo Guedes para titular do Ministério da Economia – agora reforçado pela incorporação das funções dos ministérios do Planejamento e Indústria e Comércio – e de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central. Ambos são adeptos do capitalismo liberal e do direcionamento dos gastos públicos para investimentos em infraestrutura e serviços sociais coletivos, deixando a cargo do setor privado as atividades de produção de bens e serviços individuais.
O segundo eixo se dirige a ampliar a inserção do Brasil na economia internacional, aumentar o movimento de comércio exterior e alinhar o Brasil às nações livres, baseadas na democracia política, no capitalismo liberal e na garantia dos direitos individuais. A opção pelo redirecionamento das relações exteriores, com o abandono do apoio às nações submetidas a governos de esquerda com viés claramente ditatoriais (casos de Cuba, Venezuela etc.), o realinhamento do Brasil com as nações desenvolvidas (caso dos Estados Unidos e países da Europa) e a expansão do comércio exterior brasileiro, está materializada na escolha do diplomata Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores. A despeito de algumas convicções equivocadas a respeito do papel das entidades multilaterais, algo que ele precisará trabalhar para que o Brasil seja ator relevante no cenário mundial em vez de ficar isolado, Araújo é adepto declarado da democracia política, da liberdade econômica, das políticas de respeito aos direitos humanos e da garantia às liberdades individuais.
O crime a corrupção não geram consequências apenas morais e civilizatórias, mas também econômicas
O terceiro eixo do governo Bolsonaro se dirige a duas questões internas: o combate à corrupção e a redução da taxa de criminalidade. A escolha de Sergio Moro como titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública sinaliza a determinação do governo de enfrentar essas duas chagas sociais que, ao lado da pobreza e do desemprego, formam o quadro geral de atraso e deterioração da vida nacional. Em março passado, foi divulgado que, em 2017, houve 59.103 homicídios no Brasil, o maior número dos últimos anos, o que revela o tamanho da tragédia social provocada pela violência interna. Tantas mortes por assassinato representam um flagelo que a sociedade não pode mais tolerar e deve se tornar uma das principais prioridades nos próximos anos. No cipoal de problemas ligados à violência contra a vida, um se destaca de maneira especial: as mortes provocadas pelo narcotráfico. Sem quebrar a espinha dorsal do domínio territorial dos narcotraficantes, não há solução possível.
Leia também: Uma chance para a pauta liberal (editorial de 4 de novembro de 2018)
Leia também: Sergio Moro e o bem comum (editorial de 2 de novembro de 2018)
Nossas convicções:Livre iniciativa
Ao lado dos assassinatos está o elevado grau de corrupção que contaminou todo o sistema estatal brasileiro, com a participação de setores do setor privado, enredados na teia de todo tipo de crimes envolvendo os negócios públicos. A escolha de Sergio Moro tem um caráter simbólico, por ser ele o representante mais importante do combate à corrupção nos últimos tempos e prova de que, pela primeira vez, o país começa a condenar – e colocar na cadeia – políticos, empresários e poderosos em geral. A mensagem dada pelo novo presidente é a de que seu governo tem a firme intenção de enfrentar esses dois flagelos, os quais não geram consequências apenas morais e civilizatórias, mas também consequências econômicas que levam à baixa produção nacional, redução de negócios (caso claro das baixas receitas com turismo), custos com dinheiro público e perda de empregos.
Não há de esperar progressos fantásticos no curto prazo, muito menos alimentar a ilusão de que, ao fim de quatro anos, a corrupção e os homicídios tenham deixado de existir. Mas é, sim, bastante realista alimentar a esperança de que haja redução significativa dessas duas doenças sociais que tanto maltratam a sociedade brasileira e dificultam sobremaneira o progresso material, a melhoria do bem-estar social e o avanço na redução da pobreza.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião