O risco de um conflito em grande escala entre as forças israelenses e os terroristas do Hamas e do Jihad Islâmica, que dominam a Faixa de Gaza, cresceu nos últimos dias com a insistente ofensiva dos grupos palestinos, que vêm lançando centenas de foguetes sobre o território de Israel, sem discriminar entre alvos militares e civis. A resposta israelense tem sido a realização de ataques aéreos contra alvos identificados como instalações terroristas, que no entanto também têm resultado na morte de civis, de acordo com os palestinos. O saldo de vítimas do lado israelense só não é maior porque o país montou um sofisticado sistema de defesa contra ataques de mísseis, o Iron Dome, embora alguns poucos foguetes jihadistas consigam furar o bloqueio.
O atual conflito não tem um único estopim. Quase que simultaneamente, houve uma decisão judicial em favor de colonos israelenses em Jerusalém Oriental, conflitos entre a polícia de Israel e manifestantes palestinos, e uma incursão policial na mesquita de Al-Aqsa, local sagrado para os muçulmanos. Todos os eventos guardam relação entre si, embora seja difícil definir com exatidão a partir de que ponto a situação escapou do controle, degenerando para os ataques com foguetes lançados a partir de Gaza e a escalada de hostilidades entre árabes e judeus em cidades com população mais heterogênea, como Lod, que está em estado de emergência e cujo prefeito descreveu a situação como sendo de “guerra civil”. Nesses locais, grupos extremistas de ambos os lados vêm insuflando a violência.
O direito de Israel à autodefesa não se limita a tentar destruir o máximo de foguetes inimigos; o país também pode tentar eliminar a origem dos ataques, visando as instalações terroristas
A forte discrepância no número de vítimas de cada lado pode levar ao raciocínio fácil de que a reação israelense tem sido extremamente desproporcional, mas há uma série de fatores a ponderar no modus operandi dos envolvidos no conflito. O Hamas e a Jihad Islâmica, como acabamos de afirmar, não distinguem alvos, lançando seus foguetes igualmente sobre militares e civis – estes, naturalmente, acabam sofrendo a maior parte dos efeitos da campanha terrorista, ainda que com um número baixo de vítimas. Israel tem respondido não com bombardeio indiscriminado, mas buscando atingir apenas alvos dos grupos jihadistas. No entanto, o fato de Hamas e Jihad Islâmica usarem todo tipo de edifício civil – até mesmo hospitais e escolas – como base para suas atividades, aproveitando-se do caos urbano de uma Gaza densamente povoada, faz de qualquer resposta israelense uma ocasião para que haja inúmeras vítimas civis, embora Israel alegue que os moradores das proximidades sempre são avisados antes de um ataque para que deixem a área visada.
O direito de Israel à autodefesa não se limita a tentar destruir o máximo de foguetes inimigos; o país também pode tentar eliminar a origem dos ataques, visando as instalações terroristas. Mas mesmo aqueles para quem Israel não faz o suficiente para evitar mortes de civis – por exemplo, adotando incursões terrestres em vez de ataques aéreos para reduzir o risco de vítimas palestinas sem ligação com o terror – terão de admitir que os métodos do Hamas e da Jihad Islâmica são de uma natureza muito mais nefasta, e que nem mesmo eventuais injustiças cometidas nas reintegrações de posse em Jerusalém Oriental são motivo para se disparar centenas de foguetes contra território israelense.
- “A Casa de Papel” e o conflito palestino-israelense (artigo de Felipe Camlot, publicado em 13 de maio de 2021)
- Israel, Gaza e a hipocrisia da esquerda brasileira (artigo de Marcos Susskind, publicado em 12 de maio de 2021)
- Flávio Gordon: O viés midiático anti-Israel
- Convivendo com o terror (artigo de Leo Kriger, publicado em 3 de novembro de 2015)
Ainda que ocorra algum tipo de cessar-fogo nas próximas horas ou dias, como ocorreu no fim de 2018 após campanha idêntica de lançamento de foguetes dos terroristas, respondida com ataques aéreos israelenses, a paz definitiva é um sonho distante. Negociações duradouras com Israel jamais estiveram entre os objetivos do Hamas, que ainda prega a destruição do Estado judeu, coíbe iniciativas de convivência pacífica e se vê pressionado por grupos ainda mais radicais. Israel, por seu lado, não abre mão de sua reivindicação sobre Jerusalém Oriental e não desistiu completamente de seus planos de anexar partes da Cisjordânia, reconhecida pela maior parte da comunidade internacional como território palestino, e não israelense. Os planos mais recentes para uma paz abrangente, como o proposto pelo então presidente norte-americano Donald Trump em 2020, não caminharam por não terem sido capazes de resolver satisfatoriamente todas as controvérsias.
Enquanto durar o impasse, as populações civis continuarão sendo as grandes vítimas. Os israelenses, novamente obrigados a conviver com a rotina de sirenes e abrigos, sem direito a uma vida normal; os palestinos, impedidos de poder viver em paz e prosperar, submetidos ao poder de terroristas que enxergam as mortes de seus compatriotas como ganho, um chamariz para atrair novos radicais.
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