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Editorial

Os jovens querem outra política

Nos idos da década de 1980, a banda Engenheiros do Hawaii dizia – em tom de melancolia – que a juventude era uma banda numa propaganda de refrigerantes. Não fosse encarada apenas como uma música para entreter a gurizada, mas como um alerta, a canção do grupo de Humberto Gessinger bem poderia ter se tornado o estopim de um programa de política juvenil para o Brasil.

De lá para cá, o cenário ficou ainda mais caído. Em qualquer enquete que se faça, os jovens alegam sua decepção com o país, com a classe política, com a economia. Pudera. Está entre eles a maior taxa de desemprego e é a eles que se impõe um ensino médio incapaz de prepará-los para o mundo do trabalho. Estudos do BID calculam que perto de 70 a cada centena de brasileiros entre 15 e 19 anos não têm preparo para se manter numa corporação.

A tendência de pulverização do engajamento juvenil é mundial

O reflexo desses números nas urnas é instantâneo – os brasileiros “muito jovens” representam a partícula de 0,95% dos 143,3 milhões de eleitores. Podendo não ir às urnas, não vão. Podendo gazetear o horário eleitoral, gazeteiam. Mas um alerta – negar a política é um jeito de juvenil de fazer política. Eis o ponto.

Os jovens continuam se encantando pela política. A questão é que o fazem à sua maneira, nem sempre verificável. Uma extensa pesquisa sobre juventude, publicada em 2008 pelo Datafolha, endossava o que os especialistas dizem sobre essa faixa etária: são pessoas em busca de uma experiência. Como os jovens já sabem que não vão salvar a África da pobreza nem o Oriente Médio de seus conflitos, procuram o que lhes é possível: tocar uma parte do mundo. Daí a preferência por participar de uma religião, de uma ONG, de um projeto social, a se filiar num partido.

A lamentar? Não, a considerar. O pesquisador Jean Pisani-Ferry – da Hertie de Berlim e da France-Stratégie de Paris, está entre os muitos que põem como princípio que os “jovens do milênio”, como se diz, nasceram e crescem em meio ao medo por um cataclismo ecológico, em países atolados em dívidas públicas e brindados com a possibilidade nefasta de um futuro sem ocupação formal. Eles têm de se virar com altíssimas doses de complexidade. Logo, a terem de tentar de explicar o inexplicável, preferem fazer o que podem, nem que seja se resumir a levar agasalhos num asilo. Para os jovens, a política tradicional perdeu seu poder de apresentar soluções aos problemas que lhes interessam.

A tendência de pulverização do engajamento juvenil é mundial. Uma pesquisa séria do American Press Institute e da Associated Press, publicada em 2015, mostrou que 85% dos jovens americanos acompanham o noticiário, a maior parte o faz todos os dias, mas o fazem via redes sociais, debaixo da mediação de seus amigos e grupos de interesse. Empresas, governos, igrejas e escolas precisam entender que não haverá futuro nenhum sem que se fale o idioma da turma mais nova desse grande ginásio universal.

Uma política centrada na juventude exige renunciar, por exemplo, a tecnologias estéreis (sem a presença humana), a fomentar espaços de produção cultural juvenil – uma bela lição, por exemplo, das bibliotecas de Bogotá –, a colocar os jovens na engrenagem das políticas públicas. Eles não estão mais em um mero período de transição – ficam jovens por mais tempo e definem que tipo de sociedade teremos. A propósito: 60% deles concordam que o país estaria melhor sem os partidos políticos, segundo levantamento do Data Popular de 2016. Ao mesmo tempo, 70% acreditam que o voto pode transformar o Brasil. Não é contradição. É sinal de que o descasamento entre os jovens e o mudo político tem solução.

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