Ainda que o mercado financeiro já antecipasse uma redução da taxa Selic na reunião do Copom encerrada na quarta-feira, nem todos esperavam um corte de meio ponto porcentual – baixando a Selic para 6% ao ano –, e nem o tom do comunicado, segundo o qual ainda há espaço para novos cortes no futuro, trazendo os juros básicos da economia para níveis nunca antes vistos no país. A decisão – tomada por unanimidade, aliás – mostra que os membros do Copom estão atentos não apenas à trajetória da inflação, mas também ao cenário econômico como um todo, especialmente aos preocupantes dados do desemprego e da estagnação no PIB.
Vários dos dados mencionados pelo comunicado do órgão reforçam a percepção de que uma redução da taxa de juros neste momento tem bases sustentáveis. As previsões de inflação até 2022 permanecem todas abaixo de 4% ao ano, ou seja, inferiores ao centro da meta estabelecida pelo Banco Central. Nos principais cenários levantados pelo Boletim Focus, que tem periodicidade semanal e traz as estimativas dos principais agentes do mercado financeiro, a cotação do dólar também não ultrapassa os R$ 4, ou seja, também não deve haver repique inflacionário causado por produtos importados, incluindo bens de produção. E o cenário externo é descrito como “benigno” para as economias emergentes – no mesmo dia da decisão do Copom, os Estados Unidos também reduziram seus juros pela primeira vez em dez anos, o que pode ajudar o Brasil.
O investidor só aproveitará esse dinheiro mais barato se tiver segurança de que está colocando esses recursos em um país que tem um futuro sustentável do ponto de vista fiscal
E, por fim, “o Copom reconhece que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado” – referência clara à aprovação em primeira votação da reforma da Previdência na Câmara, enquanto já começa a se falar também na reforma tributária. Como afirmamos neste espaço dias atrás, por mais que o Congresso ainda esteja longe de concluir a tramitação das mudanças na Previdência, as etapas mais tensas já haviam passado, o que permitiria ao Copom dar um voto de confiança no Legislativo.
Mas o comunicado também deixa claro que os parlamentares precisam continuar o trabalho. “Uma eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”, dizem os membros do Copom. Em outras palavras: se o Congresso não fizer sua parte, contribuirá para o retorno da inflação, já que a situação fiscal do país se deteriorará; e, com isso, os juros terão de subir novamente. O risco de as reformas naufragarem é visto pelo Copom como mais grave que o de uma reversão no cenário externo.
E, se as reformas efetivamente forem aprovadas, “a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo”, ou seja, a Selic vai cair ainda mais, e já há bancos trabalhando com a possibilidade de os juros básicos terminarem este ano em 5%. Neste momento em que a economia se recupera lentamente e o desemprego continua em níveis preocupantes, apesar do leve recuo recente, tudo de que o setor produtivo nacional precisa é desse estímulo aos investimentos com juros ainda mais baixos, combinado com medidas microeconômicas para facilitar os negócios e a injeção de dinheiro no mercado, com a liberação de parte dos saldos do FGTS. Quem mais precisa de boas notícias, no momento, é a indústria, setor que perdeu 10 mil postos de trabalho em junho, de acordo com os dados do Caged, do Ministério da Economia.
O investidor, no entanto, não aproveitará esse dinheiro mais barato se não tiver segurança de que está colocando esses recursos em um país que tem um futuro sustentável do ponto de vista fiscal. É por isso que o corte desta quarta-feira, sozinho, tem efeitos limitados. Ele pode, sim, ser um passo importante dentro de uma série de mudanças que finalmente tirarão a atividade econômica do atoleiro; mas também pode acabar revertido em breve caso as boas expectativas não se confirmem. O Copom fez sua parte; a bola, agora, volta ao Congresso.