Nesta sexta-feira, um dos episódios mais lastimáveis da história recente do Paraná completa um ano. Trata-se da batalha do Centro Cívico, na qual uma Polícia Militar que estava recebendo ordens de pessoas claramente despreparadas para uma situação como essa atacou e feriu mais de uma centena de professores e outros servidores, por sua vez inflamados por líderes sindicais pouco afeitos ao debate democrático. Olhar para o que aconteceu nos ajuda a responder a outra pergunta: do que o Paraná mais precisa daqui em diante?
Antes de mais nada, precisa colocar um fim à impunidade. Nesse sentido, o arquivamento, em fevereiro deste ano, do Inquérito Policial-Militar que apurava o confronto foi o pior sinal possível que poderia ter sido enviado à sociedade, negando o que ficou evidente pelas imagens de fotógrafos e cinegrafistas, vistas por todo o estado: as forças policiais cometeram excessos. Varrê-los para debaixo do tapete é negar à sociedade paranaense a verdade sobre as causas desses excessos: ordens superiores; decisões irresponsáveis da parte de quem estava no local, comandando pequenos grupos de PMs; exaltação individual de policiais sem o adequado preparo psicológico; ou uma combinação de tudo isso, o que parece mais provável. Ainda existe uma ação civil pública, movida pelo Ministério Público Estadual; a responsabilização e a punição de mandantes e executores é o mínimo que se espera depois de um episódio como o de 29 de abril.
Precisamos de um governador que efetivamente governe
- Os limites da indignação (editorial de 29 de abril de 2015)
- Batalha no Centro Cívico (editorial de 30 de abril de 2015)
- Democracia não se faz na marra (editorial de 3 de maio de 2015)
- O remendo e o legado (editorial de 11 de maio de 2015)
- Reflexões sobre a “batalha do Centro Cívico” (editorial de 17 de fevereiro de 2016)
E do que mais necessitamos?
Precisamos de um governador que efetivamente governe. Alguém cujo pensamento conheçamos, que não seja uma esfinge para seus eleitores e para sua própria equipe; que comunique sem hesitação que legado sonha deixar para o Paraná e qual o plano traçado para que surja este legado; alguém que se cerque das melhores pessoas, das mais capazes para implantar este plano, em vez de adotar como conselheiros pessoas de moralidade mais que questionável ou até mesmo encrencadas com a Justiça. Um governador que seja capaz de dialogar com a sociedade de forma transparente e que tenha a firmeza necessária – que não deve ser confundida com impulsividade – para agir em situações de crise, em vez de desaparecer nos episódios mais críticos. Que demonstre pleno conhecimento da situação financeira do estado e saiba que é o governo que serve às pessoas, e não o contrário. Alguém que se antecipe aos problemas em vez de ser “surpreendido” por eles. Que saiba gerir os cofres públicos com prudência, que escolha bem suas prioridades.
E, se de um lado precisamos de um governador que governe e dialogue, do outro precisamos de líderes sindicais com visão honesta e compromisso com a democracia, pessoas com quem se pode negociar e em quem se pode confiar. Sindicalistas que saibam apresentar suas demandas sem criar clima de confronto, sabedores de que a democracia não se faz na marra e que o seu exercício autêntico inclui também saber perder. Líderes sindicais que saibam mobilizar seus representados na busca autêntica do que é melhor para sua classe, em vez de usá-los como massa de manobra com finalidades ideológicas ou político-partidárias. Sindicalistas que tenham apreço pelo debate e pela discussão, não por invasões e slogans fáceis; que respeitem o funcionamento das instituições democráticas.
Olhar para o passado é importante neste 29 de abril, mas ainda mais importante é olhar para o futuro. Não conseguiremos fazer um Paraná melhor enquanto os responsáveis pelos destinos do estado não assumirem seus erros e não mudarem sua atitude. É possível reverter esse quadro? Sem dúvida que sim, mas isso exigirá muito esforço. Nossos líderes estão dispostos a tal?
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